segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Brasil consome 14 agrotóxicos proibidos no mundo

Especialista indica que pelo menos 30% de 20 alimentos analisados não poderiam estar na mesa do brasileiro

Os indicadores que apontam o pujante agronegócio como a galinha dos ovos de ouro da economia não incluem um dado relevante para a saúde: o Brasil é maior importador de agrotóxicos do planeta. Consome pelo menos 14 tipos de venenos proibidos no mundo, dos quais quatro, pelos riscos à saúde humana, foram banidos no ano passado, embora pesquisadores suspeitem que ainda estejam em uso na agricultura.

National Geographic
Foto mostra a diferença entre um solo cultivado organicamente (esquerda) e outro que recebeu a adição de adubos químicos ou agrotóxicos

Em 2013 foram consumidos um bilhão de litros de agrotóxicos no País – uma cota per capita de 5 litros por habitante e movimento de cerca de R$ 8 bilhões no ascendente mercado dos venenos.
Dos agrotóxicos banidos, pelo menos um, o Endosulfan, prejudicial aos sistemas reprodutivo e endócrino, aparece em 44% das 62 amostras de leite materno analisadas por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) no município de Lucas do Rio Verde, cidade que vive o paradoxo de ícone do agronegócio e campeã nacional das contaminações por agrotóxicos. Lá se despeja anualmente, em média, 136 litros de venenos por habitante.
Na pesquisa coordenada pelo médico professor da UFMT Wanderlei Pignati, os agrotóxicos aparecem em todas as 62 amostras do leite materno de mães que pariram entre 2007 e 2010, onde se destacam, além do Endosulfan, outros dois venenos ainda não banidos, o Deltametrina, com 37%, e o DDE, versão modificada do potente DDT, com 100% dos casos. Em Lucas do Rio Verde, aparecem ainda pelo menos outros três produtos banidos, o Paraquat, que provocou um surto de intoxicação aguda em crianças e idosos na cidade, em 2007, o Metamidofóis, e o Glifosato, este, presente em 70 das 79 amostras de sangue e urina de professores da área rural junto com outro veneno ainda não proibido, o Piretroides.
Na lista dos proibidos em outros países estão ainda em uso no Brasil estão o Tricolfon, Cihexatina, Abamectina, Acefato, Carbofuran, Forato, Fosmete, Lactofen, Parationa Metílica e Thiram.
Chuva de lixo tóxico
“São lixos tóxicos na União Europeia e nos Estados Unidos. O Brasil lamentavelmente os aceita”, diz a toxicologista Márcia Sarpa de Campos Mello, da Unidade Técnica de Exposição Ocupacional e Ambiental do Instituto Nacional do Câncer (Inca), vinculado ao Ministério da Saúde. Conforme aponta a pesquisa feita em Lucas do Rio Verde, os agrotóxicos cancerígenos aparecem no corpo humano pela ingestão de água, pelo ar, pelo manuseio dos produtos e até pelos alimentos contaminados.
Venenos como o Glifosato são despejados por pulverização aérea ou com o uso de trator, contaminam solo, lençóis freáticos, hortas, áreas urbanas e depois sobem para atmosfera. Com as precipitações pluviométricas, retornam em forma de “chuva de agrotóxico”, fenômeno que ocorre em todas as regiões agrícolas mato-grossenses estudadas. Os efeitos no organismo humano são confirmados por pesquisas também em outros municípios e regiões do país.
O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), segundo a pesquisadora do Inca, mostrou níveis fortes de contaminação em produtos como o arroz, alface, mamão, pepino, uva e pimentão, este, o vilão, em 90% das amostras coletadas. Mas estão também em praticamente toda a cadeia alimentar, como soja, leite e carne, que ainda não foram incluídas nas análises.
O professor Pignati diz que os resultados preliminares apontam que pelo menos 30% dos 20 alimentos até agora analisados não poderiam sequer estar na mesa do brasileiro. Experiências de laboratórios feitas em animais demonstram que os agrotóxicos proibidos na União Europeia e Estados Unidos são associados ao câncer e a outras doenças de fundo neurológico, hepático, respiratórios, renais e má formação genética.
Câncer em alta
A pesquisadora do Inca lembra que os agrotóxicos podem não ser o vilão, mas fazem parte do conjunto de fatores que implicam no aumento de câncer no Brasil cuja estimativa, que era de 518 mil novos casos no período 2012/2013, foi elevada para 576 mil casos em 2014 e 2015. Entre os tipos de câncer, os mais suscetíveis aos efeitos de agrotóxicos no sistema hormonal são os de mama e de próstata. No mesmo período, segundo Márcia, o Inca avaliou que o câncer de mama aumentou de 52.680 casos para 57.129.
Na mesma pesquisa sobre o leite materno, a equipe de Pignati chegou a um dado alarmante, discrepante de qualquer padrão: num espaço de dez anos, os casos de câncer por 10 mil habitantes, em Lucas do Rio Verde, saltaram de três para 40. Os problemas de malformação por mil nascidos saltaram de cinco para 20. Os dados, naturalmente, reforçam as suspeitas sobre o papel dos agrotóxicos.
Pingati afirma que os grandes produtores desdenham da proibição dos venenos aqui usados largamente, com uma irresponsável ironia: “Eles dizem que não exportam seus produtos para a União Europeia ou Estados Unidos, e sim para mercados africanos e asiáticos.”
Apesar dos resultados alarmantes das pesquisas em Lucas do Rio Verde, o governo mato-grossense deu um passo atrás na prevenção, flexibilizando por decreto, no ano passado, a legislação que limitava a pulverização por trator a 300 metros de rios, nascentes, córregos e residências. “O novo decreto é um retrocesso. O limite agora é de 90 metros”, lamenta o professor.
“Não há um único brasileiro que não esteja consumindo agrotóxico. Viramos mercado de escoamento do veneno recusado pelo resto do mundo”, diz o médico Guilherme Franco Netto, assessor de saúde ambiental da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). Na sexta-feira, diante da probabilidade de agravamento do cenário com o afrouxamento legal, a Fiocruz emitiu um documento chamado de “carta aberta”, em que convoca outras instituições de pesquisa e os movimentos sociais do campo ligados à agricultura familiar para uma ofensiva contra o poder (econômico e político) do agronegócio e seu forte lobby em toda a estrutura do governo federal.
Reação da Ciência
A primeira trincheira dessa batalha mira justamente o Palácio do Planalto e um decreto assinado, no final do ano passado, pela presidente Dilma Rousseff. Regulamentado por portaria, a medida é inspirada numa lei específica e dá exclusividade ao Ministério da Agricultura _ histórico reduto da influente bancada ruralista no Congresso _ para declarar estado de emergência fitossanitária ou zoossanitária diante do surgimento de doenças ou pragas que possam afetar a agropecuária e sua economia.
Essa decisão, até então era tripartite, com a participação do Ministério da Saúde, através da Anvisa, e do Ministério do Meio Ambiente, pelo Ibama. O decreto foi publicado em 28 de outubro. Três dias depois, o Ministério da Agricultura editou portaria declarando estado de emergência diante do surgimento de uma lagarta nas plantações, a Helicoverpa armigera, permitindo, então, para o combate, a importação de Benzoato de Emamectina, agrotóxico que a multinacional Syngenta havia tentado, sem sucesso, registrar em 2007, mas que foi proibido pela Anvisa por conter substâncias tóxicas ao sistema neurológico.
Na carta, assinada por todo o conselho deliberativo, a Fiocruz denuncia “a tendência de supressão da função reguladora do Estado”, a pressão dos conglomerados que produzem os agroquímicos, alerta para os inequívocos “riscos, perigos e danos provocados à saúde pelas exposições agudas e crônicas aos agrotóxicos” e diz que com prerrogativa exclusiva à Agricultura, a população está desprotegida.
A entidade denunciou também os constantes ataques diretos dos representantes do agronegócio às instituições e seus pesquisadores, mas afirma que com continuará zelando pela prevenção e proteção da saúde da população. A entidade pede a “revogação imediata” da lei e do decreto presidencial e, depois de colocar-se à disposição do governo para discutir um marco regulatório para os agrotóxicos, fez um alerta dramático:
“A Fiocruz convoca a sociedade brasileira a tomar conhecimento sobre essas inaceitáveis mudanças na lei dos agrotóxicos e suas repercussões para a saúde e a vida.”
Para colocar um contraponto às alegações da bancada ruralista no Congresso, que foca seu lobby sob o argumento de que não há nexo comprovado de contaminação humana pelo uso de veneno nos alimentos e no ambiente, a Fiocruz anunciou, em entrevista ao iG, a criação de um grupo de trabalho que, ao longo dos próximos dois anos e meio, deverá desenvolver a mais profunda pesquisa já realizada no país sobre os efeitos dos agrotóxicos – e de suas inseparáveis parceiras, as sementes transgênicas – na saúde pública.
O cenário que se desenha no coração do poder, em Brasília, deve ampliar o abismo entre os ministérios da Agricultura, da Fazenda e do Planejamento, de um lado, e da Saúde, do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário, de outro. Reflexo da heterogênea coalizão de governo, esta será também uma guerra ideológica em torno do modelo agropecuário. “Não se trata de esquerdismo desvairado e nem de implicância com o agronegócio. Defendemos sua importância para o país, mas não podemos apenas assistir à expansão aguda do consumo de agrotóxicos e seus riscos com a exponencial curva ascendente nos últimos seis anos”, diz Guilherme Franco Netto. A queda de braços é, na verdade, para reduzir danos do modelo agrícola de exportação e aumentar o plantio sem agrotóxicos.
Caso de Polícia
“A ciência coloca os parâmetros que já foram seguidos em outros países. O problema é que a regulação dos agrotóxicos está subordinada a um conjunto de interesses políticos e econômicos. A saúde e o ambiente perderam suas prerrogativas”, afirma o pesquisador Luiz Cláudio Meirelles, da Fiocruz. Até novembro de 2012, durante 11 anos, ele foi o organizador gerente de toxicologia da Anvisa, setor responsável por analisar e validar os agrotóxicos que podem ser usados no mercado.
Meirelles foi exonerado uma semana depois de denunciar complexas falcatruas, com fraude, falsificação e suspeitas de corrupção em processos para liberação de seis agrotóxicos. Num deles, um funcionário do mesmo setor, afastado por ele no mesmo instante em que o caso foi comunicado ao Ministério Público Federal, chegou a falsificar sua assinatura.
“Meirelles tinha a função de banir os agrotóxicos nocivos à saúde e acabou sendo banido do setor de toxicologia”, diz sua colega do Inca, Márcia Sarpa de Campos Mello. A denúncia resultou em dois inquéritos, um na Polícia Federal, que apura suposto favorecimento a empresas e suspeitas de corrupção, e outro cível, no MPF. Nesse, uma das linhas a serem esclarecidas são as razões que levaram o órgão a afastar Meirelles.
As investigações estão longe de terminar, mas forçaram já a Anvisa – pressionada pelas suspeitas –, a executar a maior devassa já feita em seu setor de toxicologia, passando um pente fino em 796 processos de liberação avaliados desde 2008. A PF e o MPF, por sua vez, estão debruçados no órgão regulador que funciona como o coração do agronegócio e do mercado de venenos.
    fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2014-02-24/brasil-consome-14-agrotoxicos-proibidos-no-mundo.html

    terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

    Disputa entre Rússia e Ucrânia ameaça gás europeu

    Vários países europeus disseram ter sofrido interrupções em seu suprimento de gás da Rússia depois que Moscou reduziu o envio pela Ucrânia, acusando o país de estar roubando gás e de não pagar contas.

    A Turquia afirma que todo o suprimento de gás vindo via Ucrânia foi suspenso. A Romênia anunciou uma redução de 75%. A Bulgária, a Grécia e a Macedônia também foram afetadas.
    Ucrânia fechou três dos quatro gasodutos que suprem gás russo para a União Européia, mas o governo ucraniano nega, alegando que corte foi feito no fornecimento pela empresa russa.
    A Comissão Européia afirma que o corte no suprimento é “totalmente inaceitável” e o atribuiu a uma disputa comercial entre os dois países, sem apontar um culpado.
    O gás é um dos principais combustíveis de calefação em vários países europeus - e o continente enfrenta, no momento, um inverno rigoroso.
    Gasodutos
    A Rússia é responsável por cerca de 25% do gás consumido na União Européia, e cerca de 80% desse gás é enviado pelos gasodutos ucranianos.
    Na semana passada, a Rússia reduziu o envio de gás para a Ucrânia em um quinto, por conta de uma disputa sobre contas não pagas.
    Em seu último comunicado, a Gazprom acusou a Ucrânia pelo fechamento “sem precedentes” de seus gasodutos de trânsito. A empresa afirma que só está conseguindo enviar 40 milhões de metros cúbicos de gás para a Europa, quando o volume normal seria de 225 milhões.
    A companhia de energia austríaca OMV disse que vai começar a usar suas reservas depois que o suprimento caiu para 10% do nível normal.
    A Bulgária, que é quase totalmente dependente do gás russo enviado via Ucrânia, afirma que seu suprimento é suficiente apenas para alguns dias.
    “Situação de crise”
    Nesta terça-feira a empresa estatal de gás da Ucrânia, a Naftogaz, afirmou que a Rússia recentemente cortou o envio de gás em mais de dois terços e listou nove países, entre eles Alemanha, Polônia e Hungria, que poderão ter seu suprimento reduzido.
    “A Naftogaz da Ucrânia considera que nos casos de usuários europeus receberem um volume menor de gás natural, todas as queixas devem ser direcionadas diretamente à Gazprom”, diz a companhia em seu website.
    O governo da Bulgária está em negociações de emergência para decidir qual o próximo passo no que chamou de “situação de crise”.
    Os suprimentos para a República Checa também caíram significativamente durante a noite, e a Croácia, que importa 40% de seu gás, afirmou que o suprimento de gás russo via Ucrânia foi completamente suspenso.
    UE
    Em um comunicado nesta terça-feira, um porta-voz da Comissão Européia disse que “sem uma advertência prévia e em contradição clara com as garantias dadas pelas mais altas autoridades russas e ucranianas à União Européia, os suprimentos de gás para alguns Estados membros da UE foram substancialmente cortados – essa situação é completamente inaceitável”.
    “A presidência Checa da UE e a Comissão Européia exigem que os suprimentos de gás sejam restaurados imediatamente para a UE e que os dois lados retomem já as negociações, com o objetivo de encontrar uma solução definitiva para sua disputa comercial bilateral.”
    Os novos Estados membros da UE no centro e leste europeu são extremamente – e em alguns casos totalmente – dependentes do gás russo. Ainda assim, a Alemanha e a Itália juntas respondem por quase metade do consumo de gás russo na EU.
    A Gazprom acusa a Ucrânia de estar roubando 65,3 milhões de metros cúbicos de gás diariamente, mas a Ucrânia nega, alegando que problemas técnicos estão prejudicando o fluxo para a Europa.
    A Gazprom ainda acusa a Ucrânia de dever mais de US$ 600 milhões em contas não pagas e os dois lados ainda não chegaram a um acordo sobre o preço do gás a ser exportado em 2009.

    http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2009/01/090106_gasrussiaucrania_ba.shtml
     


    quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

    3ª LISTA DA CHAMADA DA UFSCar SAI HOJE, VEJA O QUE VOCÊ TEM QUE FAZER

    De acordo com o calendário estabelecido pelo regulamento do processo seletivo, a próxima etapa será a manifestação presencial de interesse para a 3ª chamada. Será divulgada no dia 13 de fevereiro a lista dos estudantes que serão convocados, na proporção entre 2 e 50 vezes mais candidatos do que a quantidade de vagas disponíveis por curso.

    O QUE FAZER DEPOIS DE VER MEU NOME NA LISTA DA UFSCar HOJE? SEGUE AI O CRONOGRAMA:

    18 e 19 de fevereiro de 2014
    Das 14h30 às 17h
    Manifestação Presencial de Interesse por vaga – para a 3ª chamada. A ser realizada presencialmente pelo Candidato ou por seu procurador legal, junto ao endereço do campus do curso para o qual foi convocado

    20 de fevereiro de 2014 até as 18 horas
    Divulgação dos resultados da 3ª Chamada – Relação de Candidatos convocados para requerer a matrícula. A divulgação será feita exclusivamente pela Internet, no endereço www.ufscar.br

    24 de fevereiro de 2014 Das 14h30 às 17h
    Matrícula dos convocados na 3ª Chamada. A ser realizada presencialmente pelo candidato ou por seu procurador legal, junto ao endereço do campus do curso para o qual foi convocado

    OBS: TUDO FEITO DE MANEIRA PRESENCIAL, por isso muitos não comparecem e a lista roda.

    quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

    A ANTROPÓLOGA QUE MORA NA FAVELA PARA ENTENDER OS CONSUMIDORES PARA AS EMPRESAS

    Hilaine Yaccoub tem 35 anos e é antropóloga. Em 2011 ela se mudou para a Barreira do Vasco, uma das mais de mil favelas da cidade do Rio de Janeiro. Quando chegou, a favela ainda não estava pacificada e era dominada pelo tráfico de drogas. Passou alguns sufocos. Uma noite, estava em sua antiga casa, em Niterói, e precisava ir até a favela buscar um computador que já estava na casa recém-alugada. "Tinha um relatório para entregar e os dados estavam lá", conta. Já era uma da manhã e sua casa ficava a 200 metros da principal boca de fumo (ponto de venda de maconha) da comunidade. "Os traficantes costumavam atirar nos postes de luz para que a rua ficasse toda escura e ninguém visse nada. Nesse dia, ela tomou fôlego, entrou na favela e seguiu rumo à sua casa. "Passei pelos traficantes, cumprimentei todos eles e fui em frente. Tive muito medo".
    A realidade na Barreira do Vasco agora é outra. Em 12 de abril deste ano foi inaugurada a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na comunidade, localizada na zona Norte da cidade. Hilaine estuda os hábitos de vida e de consumo de homens, mulheres, crianças e adolescentes locais. Depois de morar por quase um ano na favela, ela agora passa três dias da semana por lá, num quartinho alugado. Com a chegada da UPP, seu trabalho ficará ainda mais rico. "Vou poder fazer um retrato de como as pessoas viviam antes, durante e depois da pacificação", diz. Sua ideia é permanecer na Barreira do Vasco até 2014.
    Hilaine Yaccoub (Foto: Divulgação)
    Munida de câmera fotográfica e seu iPhone, Hilaine registra em fotos, vídeos e áudios o dia a dia dos moradores da Barreira do Vasco. Todo esse material é precioso para o trabalho que ela e outros onze antropólogos fazem na Consumoteca, um grupo que realiza pesquisas de observação direta e participativa. Hilaine e seus colegas dão sentido prático aos estudos antropológicos. Hoje eles pesquisam desde hábitos de consumo dos brasileiros endinheirados à forma que as pessoas vivem nas favelas. Cada um é especialista em um determinado grupo ou tipo de consumo: luxo, popular, adolescente, infantil, feminino. Entre seus clientes estão grandes empresas como a Eudora, marca do grupo Boticário, e o Club Social, marca de biscoito da Mondelez (ex-Kraft Foods). Veja a seguir algumas das impressões que a antropóloga fez da vida na favela carioca.
    O começo
    Em 2007 Hilaine fez sua primeira incursão num bairro bem pobre do Rio de Janeiro. “Ainda não era uma favela, mas já era um lugar bem carente”, conta. Ela foi contratada pela Ampla, concessionária de energia, para pesquisar por que as pessoas fazem os chamados gatos – as ligações clandestinas de energia elétrica. Mas seus amigos e vizinhos não sabiam que ela trabalhavam para a empresa. Sabiam apenas que ela era antropóloga e estava fazendo uma pesquisa. “As agências da Ampla estavam sendo apedrejadas por lideranças locais, então meu chefe ficou com medo de represálias e me pediu para não contar para quem eu trabalhava”. Hilaine alugou uma casa, que mobiliou com móveis bem populares, e passou oito meses no local. Descobriu que o que leva as pessoas a fazerem ligações irregulares de luz é algo bem mais complexo do que se imagina. "As pessoas não acham que têm de pagar por algo que, para elas, é um bem público. Antes da privatização do setor, era o governo, através das estatais, que fornecia energia elétrica para a população. Então elas acham que é um serviço sem dono, que não precisa ser pago", afirma.
    Morando na favela
    Depois dessa primeira experiência, a antropóloga seguiu seus estudos e, em 2011, se mudou novamente de sua cidade natal, Niterói, para a favela. Ela decidiu ir para a Barreira do Vasco, favela que na época tinha dezenas de pontos de droga, e onde as concessionárias de energia elétrica do Rio de Janeiro não atuam. Todas as ligações de luz são irregulares. No início, a mudança foi tímida. Hilaine alugou uma casa que ficava mais nos arredores da favela. A experiência não foi tão interessante porque ela não estava inserida de verdade na vida local.
    Ela optou, então, por alugar um quarto dentro de uma casa mais no meio mesmo da favela. Aí conseguiu estabelecer dois tipos de relações: as horizontais, com os vizinhos da rua, e as verticais, com os demais moradores da casa (raramente as casas nas favelas são térreas). “O começo foi muito complicado. As pessoas ficavam desconfiadas e se perguntavam: quem é essa moça que entra e sai da favela com uma câmera na mão?”, conta ela. Sua vida ficou mais fácil porque ela logo conheceu a presidente da associação de moradores da Barreira do Vasco que a apresentou para a comunidade.
    O trabalhoJá faz algum tempo que a “favela” está na moda. O crescimento do emprego, da renda e a redução da desigualdade permitiram que, entre 2003 e 2011, 40 milhões de pessoas migrassem das classes D e E para a classe C. Esse fenômeno chamou e ainda chama a atenção de milhares de empresas de dentro e de fora do Brasil. Todas querem entender melhor os costumes, desejos e necessidades desses consumidores para conquistá-los.
    Para Hilaine, é preciso ter cuidado e conhecimento para estudar os hábitos dessas pessoas. “Muita empresa olha quem mora na favela como se essas pessoas fossem índios urbanos. Uma gente exótica”, diz. Como antropóloga, o que ela quer é vê-los como qualquer outra pessoa, de qualquer outro lugar. E dar espaço para que eles mostrem como vivem, como pensam e o que querem da vida. "Entro dentro da casa das pessoas. Vejo o que elas comem, como elas usam os eletrodomésticos e eletroeletrônicos que compram, como elas cuidam da saúde e da aparência".
    HILAINE YACCOUB: “MUITA EMPRESA OLHA QUEM MORA NA FAVELA COMO SE ESSAS PESSOAS FOSSEM ÍNDIOS URBANOS. UMA GENTE EXÓTICA” 

    Novos amigosEla já está tão inserida na favela que tem dezenas de amigos. Circula por todos os lugares, vai a festas, casamentos, batizados. “Levo meu namorado para passear lá e participo de tudo”, diz ela. A antropóloga conta que a generosidade é um das características mais fortes dos seus novos amigos. “É raro ir na casa de alguém e não comer nada. Sempre me oferecem mil coisas”.
    Hilaine conta que o convívio direto com os moradores locais permitiu que ela descobrisse que mesmo dentro da favela há várias classes sociais. “Tem o pessoal que se deu bem e hoje tem carro importado, mas não sai de lá porque fora da comunidade não é conhecido de ninguém e a pessoa quer ser reconhecida. Tem os universitários, os que ainda estão melhorando de vida e aqueles que seguem dependentes dos programas do governo como o Bolsa Família”.

    http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Vida/noticia/2013/04/antropologa-que-estuda-favela-para-empresas.html

    terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

    São Paulo registra o mês de janeiro mais quente dos últimos 71 anos

    Janeiro foi o mês mais quente em São Paulo dos últimos 71 anos e também o mais seco. Nesta semana, a umidade do ar foi próxima da que costuma ser registrada no inverno. A onda de calor se espalha por todo o país, a ponto do Rio Grande do Sul ficar mais quente do que o Piauí.
    A falta de chuva tem dificultado a dispersão da poeira e deixado o ar bastante poluído. Na quarta-feira (29), a cidade registrou a umidade do ar mais baixa desde 1984: 12%, considerado estado de alerta.
    As temperaturas estão quase 5ºC acima da média. Na represa que abastece a capital paulista, em muitas locais, o solo esturricado lembra o sertão nordestino. O reservatório deveria estar com 65% de capacidade, mas está só com 22%. A secura é um contraste com as enchentes, comum nesse período do ano.
    Outras regiões do país também enfrentam a falta de chuva. Em uma fazenda, no sul de Minas Gerais, as folhas estão secas e os pés de milho ficaram menores. “Pelo menos, 30% nós vamos ter de perda de produtividade”, estima o agricultor Antenor Rabelo.
    O rio Piracicaba, no interior paulista, está com o menor volume de água dos últimos 50 anos. As pedras do fundo do rio já aparecem.
    O meteorologista Franco Nadal Villela explica que ventos vindos do oceano estão afastando a corrente que todo o verão sopra da Amazônia em direção aos estados do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e parte do Nordeste, e formam a poluição. “Isso é como se fosse uma pedra no fluxo de um rio, que desvia a corrente, no caso seriam os ventos, para oeste. Essa alta pressão tanto faz isso, como impede que as frentes frias avancem”, explica.

    http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2014/01/sao-paulo-registra-o-mes-de-janeiro-mais-quente-dos-ultimos-71-anos.html