sexta-feira, 28 de março de 2014

Seis a cada dez professores são contra sistema de aprovação nas escolas estaduais

Levantamento feito com 2,1 mil docentes faz parte de uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira, 24, pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e o Instituto Data Popular


SÃO PAULO - A resistência dentro das escolas ao modelo paulista de progressão continuada, em que não há chance de reprovação em todas as séries, foi medida em números: 63% dos professores e 75% dos alunos são contrários. Entre os pais, a rejeição sobe para 94%. Os dados são de uma pesquisa do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), em parceria com o Instituto Data Popular, divulgada nesta segunda-feira, 24.
O modelo estadual passou por mudanças neste ano. O ensino fundamental agora tem três ciclos e o aluno pode repetir ao fim de cada uma das etapas: 3.º, 6.º e 9.º anos. Até 2013 a reprovação só era prevista em dois momentos, no 5.º e no 9.º ano. A alteração foi anunciada pelo governo do Estado quatro meses depois de a Prefeitura de São Paulo ter ampliado a reprovação na rede municipal. No ensino médio, a reprovação é possível em todas as séries.
O principal argumento contra o sistema é a percepção de que os alunos passam de ano sem aprender a matéria - o que é admitido por 46% dos estudantes entrevistados na pesquisa. Outras justificativas são a baixa autoridade do professor sobre a classe e a falta de esforço dos alunos. A progressão continuada foi o 2.º maior problema das escolas na opinião dos docentes, atrás apenas da falta de segurança. A pesquisa ainda mostrou que 39% dos pais e 29% dos alunos acreditam que mais cursos e atividades extracurriculares são essenciais para melhorar a qualidade da escola.
Para a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, porém, não adianta aumentar as chances de repetência sem qualificar o ensino. "Não é só reprovar ou aprovar. Junto das alterações, devemos ter um conjunto de medidas para ter desenvolvimento pleno do aluno", diz. De acordo com ela, a elevada retenção no primeiro ano do ensino médio é fruto da aprovação sem domínio dos conteúdos. "É uma exclusão postergada", avalia.
O professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Alavarse diz que, apesar de o baixo nível de aprendizado ser real, a política da repetência é onerosa e pouco eficiente. "Passar de ano também não significa que o aluno aprendeu", ressalta. "São necessárias estratégias para acompanhar os desempenhos."
Modelo estadual. Em nota, a Secretaria da Educação do Estado afirmou "que é equivocado dizer que há ausência de reprovação no sistema de progressão continuada da rede". Segundo a pasta, o modelo foi aperfeiçoado com maior chance de retenção para que "as defasagens de conhecimento sejam corrigidas mais prematuramente".
O texto diz ainda que "todos os alunos são constantemente avaliados, recebem boletins escolares bimestralmente e podem optar por três diferentes modalidades de recuperação". Além do novo modelo de escola de tempo integral, cursos técnicos e de idiomas, 300 mil alunos da rede desenvolvem alguma atividade extracurricular. Para a segurança, a escola tem apoio da polícia e capacita os educadores para ações preventivas.
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,seis-a-cada-dez-professores-sao-contra-sistema-de-aprovacao-nas-escolas-estaduais,1144465,0.htm

domingo, 9 de março de 2014

Conflitos e protestos na Ucrânia


Pneus queimando em um distrito governamental em Kiev, durante protestos na Ucrânia.*
Desde novembro de 2013 ocorreu uma onda de protestos na Ucrânia  contra o governo do presidente Viktor Yanukovych, principalmente na praça da Liberdade (Maidan), no centro da capital Kiev. O motivo principal seria o fato de Yanukovych ter decidido que o país não assinaria o acordo com a União Europeia , pretendendo reforçar as relações com a Rússia . Prédios públicos foram ocupados, barricadas foram erguidas na capital Kiev e dezenas de mortes foram verificadas desde o início dos conflitos, evidenciando a violência dos protestos.
Há ainda uma série de fatores que tem levado as pessoas às ruas, como a crise econômica, a desigualdade social, a corrupção, o sucateamento dos serviços sociais, a pobreza e o desemprego, além da forte repressão policial que se verificou contra os manifestantes.
O conflito interno na Ucrânia está relacionado com divisões geográficas e culturais do país. A Ucrânia Central e Ocidental é mais próxima à Europa e é onde existe uma tradição cultural ucraniana. A Ucrânia do Sul e Oriental é mais próxima à Rússia e sua população é de maioria russa. Essa divisão traduz-se no apoio ou não do presidente Viktor Yanukovych, já que os ucranianos do centro e do ocidente são os principais opositores do regime, e o apoio ao presidente estaria nas regiões orientais e sul.
Tais divisões expressam-se ainda em diferentes vertentes de nacionalismo. Isso possivelmente explica que parte dos líderes dos protestos seja de direita e de extrema-direita, muitos simpatizantes do fascismo  e do nazismo.
O mais organizado é o partido Svoboda (Liberdade), com células de ativistas em várias regiões. Há ainda uma coalizão de grupos neonazistas denominados Setor Direita, que ganharam bastante apoio após os enfrentamentos na praça da Independência. Individualmente, o principal nome da oposição é o ex-campeão de boxe Vitali Klitschko, líder do movimento chamado Udar (soco), possível candidato à presidência em 2015, com o lema “um país moderno com padrões europeus”.
Outra liderança da oposição a Yanukovych é a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko, presa desde 2011, em decorrência de acusações de abuso de poder, durante a realização de um acordo sobre gás com a Rússia, em 2009.
​Policiais e manifestantes frente a frente nas ruas de Kiev, durante os protestos na Ucrânia.**
Policiais e manifestantes frente a frente nas ruas de Kiev, durante os protestos na Ucrânia.**
A situação na Ucrânia está ainda em aberto, principalmente graças ao fato de ser um país industrializado e também por passarem em seu território gasodutos que fornecem o combustível à Europa, transformando assim os protestos em foco de interesse de potências ocidentais e da Rússia.
Possivelmente, nos próximos vestibulares, o que pode ser abordado nem seja a situação atual da Ucrânia, mas talvez alguns momentos de sua história.
Mais próxima no tempo está a chamada Revolução Laranja, ocorrida em 2004. Foi um movimento relacionado com as eleições daquele ano, que se polarizaram entre Viktor Yushchenko, um político ligado ao Ocidente, e o próprio Viktor Yanukovych, apoiado pelo presidente à época, Leonid Kuchma, e pró-Rússia. Havia sérias críticas à corrupção no governo de Kuchma, e a candidatura de Yushchenko era uma possível alternativa a essa situação.
As denúncias de fraudes das eleições em favor de Yanukovych levaram a Suprema Corte do país a decidir por um novo segundo turno. Grandes manifestações tomaram as ruas e greves ocorreram nas empresas. Yushchenko sofreu envenenamento por dioxina, que não o matou, mas deixou sequelas em seu rosto. Em face do acirramento dos protestos, nova eleição foi realizada, garantindo a vitória de Yushchenko.
A Revolução Laranja foi uma tentativa de colocar no poder políticos não mais diretamente ligados à influência russa. Isso possivelmente ocorreu pelo fato de a Ucrânia, durante muitas décadas, estar inserida nas estruturas do Estado Russo.
Desde o século XVIII, a Ucrânia fazia parte do território do Império dos czares russos e assim foi até a Revolução Bolchevique  de 1917. No ano posterior, a Ucrânia conseguiu sua independência e setores sociais ucranianos foram fundamentais para a derrota das tropas do Exército Branco, que pretendiam acabar com o processo revolucionário. Na luta contra os Brancos, destacaram-se principalmente os camponeses liderados por Nestor Makhno.
Entretanto, em 1924, a República Socialista Soviética da Ucrânia aderiu à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e nessa estrutura permaneceu até o colapso do chamado comunismo soviético em 1991. Nesse ano, uma nova independência foi conseguida, dando nome ainda à praça Maidan, onde estão ocorrendo os protestos em 2013 e 2014.
Apesar de terem conseguido uma intensa industrialização na órbita soviética, os ucranianos vivenciaram períodos de graves problemas sociais. Durante o período da chamada coletivização das terras, na década de 1930, houve intensa resistência camponesa, e a requisição forçada de cereais por parte do governo soviético resultou na morte de cinco milhões de pessoas. O outro caso que pode ser citado foi o acidente nuclear na usina de Chernobyl , em 1986, que atingiu principalmente o território ucraniano, bielorrusso e russo, resultando na evacuação de grandes extensões de terras.
Manifestante lança um coquetel-molotov durante protestos na Ucrânia.*
Manifestante lança um coquetel-molotov durante protestos na Ucrânia.*
A independência em 1991 fortaleceu também as tendências políticas nacionalistas, que tentam afastar o país da influência russa. Nesse sentido, a situação de conflito que se verifica atualmente na Ucrânia está ligada a esse histórico do país, de subordinação à Rússia, por um lado, e de tentativa de criar uma política nacionalista independente e próxima das instituições políticas da Europa Ocidental, de outro.
Porém, a força que vêm demonstrando os grupos de extrema-direita indica a constituição de um cenário em que o autoritarismo, ou talvez o fascismo, seja o grande vencedor.

fonte: http://vestibular.brasilescola.com/atualidades/conflitos-protestos-na-ucrania.htm