sábado, 29 de outubro de 2016

O que é bolivarianismo?

A palavra da moda no Brasil é usada por muita gente que não faz ideia de seu significado. Entenda o que é bolivarianismo e por que ele nada tem a ver com "ditadura comunista"


Após ser apropriado pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, o termooriginado do sobrenome do libertador Simón Bolívar aterrissou no debate político brasileiro. São frequentes as acusações de políticos de oposição e da mídia contra o governo federal petista. Lula e Dilma estariam "transformando o Brasil em uma Venezuela". Mas o que é o tal bolivarianismo de que tanto falam? É um palavrão? O Brasil é uma Venezuela? Bolivarismo é sinônimo de ditadura comunista? Antes de sair por aí repetindo definições equivocadas, leia as respostas abaixo:
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Simón Bolivar
O que é bolivarianismo?
O termo provém do nome do general venezuelano do século 19 Simón Bolívar, que liderou os movimentos de independência da Venezuela, da Colômbia, do Equador, do Peru e da Bolívia. Convencionou-se, no entanto, chamar de bolivarianos os governos de esquerda na América Latina que questionam o neoliberalismo e o Consenso de Washington (doutrina macroeconômica ditada por economistas do FMI e do Banco Mundial).

Bolivarianismo e ditadura comunista são a mesma coisa?
Não. Mesmo considerando a interpretação que Chávez deu ao termo, o que convencionou-se chamar bolivarianismo está muito longe de ser uma ditadura comunista. As realidades de países que se dizem bolivarianos, como Venezuela, Bolívia e Equador, são bem diferentes da Rússia sob o comando de Stalin ou mesmo da Romênia sob o regime de Nicolau Ceausescu. Neles, os meios de produção estavam nas mãos do Estado, não havia liberdade política ou pluralidade partidária e era inaceitável pensar diferentemente da ideologia dominante do governo. Aqueles que o faziam eram punidos ou exilados, como os que eram enviados para o gulag soviético, campo de trabalho forçado símbolo da repressão ditatorial da Rússia. Na Venezuela, por exemplo, nada disso acontece. A oposição tem figuras conhecidas como Henrique Capriles, Leopoldo López e Maria Corina Machado. Cenário semelhante ocorre na Bolívia, no Equador e também no Brasil, onde há total liberdade de expressão, de imprensa e de oposição ao governo.

Foi Chávez quem inventou o bolivarianismo?
Não. O que o então presidente venezuelano Hugo Chávez fez foi declarar seu país uma "república bolivariana". A mesma retórica foi utilizada pelos presidentes Rafael Correa (Equador) e Evo Morales (Bolívia). A associação entre bolivarianismo e socialismo, no entanto, é questionável segundo a própria biógrafa de Bolívar, a jornalista peruana Marie Arana, editora literária do jornal americano The Washington Post. De acordo com ela, esse “bolivarianismo” instituído por Chávez na Venezuela foi inspirado nos ideais de Bolívar, tais como o combate a injustiças e a defesa do esclarecimento popular e da liberdade. Mas, segundo a biógrafa, a apropriação de seu nome por Chávez e outros mandatários latinos é inapropriada e errada historicamente: “Ele não era socialista de forma alguma. Em certos momentos, foi um ditador de direita”.

O que se tornou o bolivarianismo na Venezuela?
Quando assumiu a Presidência da República em 1999, Chávez declarou-se seguidor das ideias de Bolívar. Em seu governo uma assembleia alterou a Constituição da Venezuela de 1961 para a chamada Constituição Bolivariana de 1999. O nome do país também mudou: era Estado Venezuelano e tornou-se República Bolivariana da Venezuela. Foram criadas ainda instituições de ensino com o adjetivo, como as escolas bolivarianas e a Universidade Bolivariana da Venezuela.

Mas esse regime que Chávez chamava de bolivarianismo era comunista?
Não, apesar de o ex-presidente venezuelano ter usado o termo "Revolução Bolivariana" para referir-se ao seu governo. A ideia era promover mudanças políticas, econômicas e sociais como a universalização à educação e à saúde, além de medidas de caráter econômico, como a nacionalização de indústrias ou serviços. Chávez falava em"socialismo do século XXI", mas o governo venezuelano continua permitindo a entrada de capital estrangeiro no País, assim como a parceria com empresas privadas nacionais e estrangeiras. Empreiteiras brasileiras, chinesas e bielo-russas, por exemplo, constroem moradias para o maior programa habitacional do país, o Gran Misión Vivienda Venezuela, inspirado no brasileiro Minha Casa Minha Vida.

O Brasil "virou uma Venezuela"?
Esta afirmação não faz sentido. O Brasil é parceiro econômico e estratégico da Venezuela, mas as diretrizes do governo Dilma e do governo de Nicolás Maduro são bastante distintas, tanto na retórica quanto na prática.

Os conselhos populares são bolivarianos?
Não, e aqui o engano vai além do uso equivocado do adjetivo. Parte da Política Nacional de Participação Social, os conselhos populares seriam a base de um complexo sistema de participação social, com a finalidade de aprofundar o debate sobre políticas públicas com representantes da sociedade civil. Ao contrário do alegado por opositores, os conselhos de participação popular não são uma afronta à democracia representativa. Conforme observou o ex-ministro e fundador do PSDB Luiz Carlos Bresser-Pereira, os conselhos estabeleceriam “um mecanismo mais formal por meio do qual o governo poderá ouvir melhor as demandas e propostas [da população]”.

http://www.cartacapital.com.br/politica/o-que-e-bolivarianismo-2305.html

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

ACORDO NUCLEAR ENTRE IRÃ E OCIDENTE

Irã se prepara para receber capital e tecnologia estrangeiros

Jan 2016

Presidente Rohani felicita a nação por acordo com o Ocidente e busca tranquilizar os rivais regionais

HISTÓRICO NO FINAL DO POST

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O presidente do Irã Hasan Rohani, descreveu neste domingo o  acordo nuclear com o Ocidente como uma “vitória política” do seu país. Em tom triunfal, na primeira reação após a suspensão das sanções internacionais, o mandatário declarou ao Parlamento que o acordo “abre um novo capítulo” na história do país e marca um momento decisivo para a economia. Em uma declaração posterior, transmitida pela televisão, Rohani admitiu que Teerã precisará atrair pelo menos 30 bilhões de dólares (121,4 bilhões de reais) em investimentos estrangeiros diretos nos próximos cinco anos.
“A partir de hoje as empresas podem voltar a utilizar os canais legais para fazer negócios, os bancos iranianos voltarão a operar com normalidade, foram suspensos os limites à exportação de petróleo e podemos comprar peças de reposição para a aviação, o que aumentará a segurança dos nossos passageiros; além disso, recuperaremos o dinheiro que, com o pretexto das sanções, havia sido congelado em instituições bancárias estrangeiras”, enumerou Rohani, visivelmente satisfeito.
Em várias ocasiões, ele insistiu que o acordo foi resultado da “resistência, sabedoria e vontade nacional” dos iranianos, além de destacar “a orientação do líder supremo”, o aiatolá Ali Khamenei, e o trabalho de diplomatas experientes. Ele tinha à sua frente a cúpula do seu Governo, incluindo o ministro de Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, e seu braço-direito nas negociações, o vice-ministro Abbas Araqchi. “Quem não acreditou que poderíamos conseguir se equivocou; conseguimos, graças ao poder da nossa nação”, declarou ele, sob aplausos.
Mas, deixando-se de lado o tom épico das suas palavras e as obrigatórias referências aos “mártires da causa nuclear” (estavam presentes as viúvas dos cinco cientistas assassinados durante o período de expansão do programa atômico), a mensagem foi sobretudo econômica. Questionado por um jornalista a respeito das estimativas de que o Irã precisaria de 30 a 50 bilhões de dólares em investimentos estrangeiros nos próximos cinco anos, o presidente aceitou a cifra.
“Necessitamos de capital e tecnologia. Nosso país é suficientemente estável para atrair os investidores estrangeiros e está preparado para recebê-los”, afirmou, mencionando também que representantes de 140 empresas de 50 países já visitaram o Irã para avaliar possíveis investimentos. Trata-se, segundo ele, de uma questão de confiança. “Nas poucas horas transcorridas desde anúncio, foram expedidas mais de mil cartas de crédito [compromissos de investimento] em diferentes bancos estrangeiros”, anunciou. Outro repórter quis saber se o Irã aceitará também investimentos dos EUA. Rohani constatou que são as leis norte-americanas que impedem os cidadãos desse país de negociarem com o Irã (exceto em alguns setores específicos). “Se eles chegarem, estaremos dispostos a recebê-los”, acrescentou, em tom sóbrio.
Esse pragmatismo – ou moderação, segundo alguns analistas – impulsionou a aposta de Rohani na negociação nuclear assim que ele tomou posse, em meados de 2013. É verdade que depois se soube que os contatos preliminares haviam começado ainda antes. Entretanto, é duvidoso que, com outro presidente menos aberto ao diálogo, fosse possível levar o acordo adiante. Obtê-lo exigiu não só a habilidade diplomática de Rohani como também um jogo de cintura político para suportar a resistência dos setores mais conservadores (que desconfiam do Ocidente e especialmente dos EUA) e daqueles que se beneficiavam de uma economia fechada ao exterior.
O resultado positivo da sua perseverança surge, além disso, num momento crítico, já que o Irã realiza uma importante eleição legislativa no fim deste mês. Como lhe recordou uma jornalista, há intensos rumores de que seus adversários políticos tentarão desqualificar a candidatura de aliados do presidente. Rohani disse estar a par disso, mas se mostrou confiante de que a lei será cumprida. Ele acredita que os iranianos, recuperada a esperança após anos de penúrias, estarão ao seu lado. Por isso quer que estes vejam logo os benefícios do acordo.
“A partir de hoje começamos a vender mais petróleo”, anunciou ele na entrevista coletiva. “Agora precisamos aumentar as exportações não petroleiras para criar um ambiente competitivo”. Seu objetivo, afirmou, é dar mais peso ao setor privado, e que o petróleo proporcione “uma renda suplementar”. “Com o fim das sanções, chegou a hora de construir o país”, declarou pela manhã no Parlamento.
“Os investidores não deveriam olhar para o Irã a fim de ganhar dinheiro rápido, e sim investir com uma visão de longo prazo para se beneficiarem do mercado que terá o melhor rendimento nos próximos cinco anos”, aconselha Ramin Rabii, executivo-chefe da consultoria financeira Turquoise Partners. “Esperamos que a economia iraniana cresça a um ritmo de 6% a 8% durante vários anos”, declarou Rabii à Bloomberg. Rohani foi mais precavido e disse que esperava “pelo menos 5% no próximo ano” fiscal (que começa em 21 de março).

Protesto de Israel

A suspensão de sanções parece contentar a muitos, mas certamente não a Israel. O governo do primeiro-ministro Benjamim Netanyahu continua convencido de que o Irã não abandonou suas aspirações nucleares. “A política israelense foi e continuará sendo a mesma: não permitir que o Irã obtenha armas nucleares", afirmou Netanyahu neste domingo numa reunião do gabinete de Governo, informa Lourdes Baeza, de Jerusalém.
Israel espera que, se houver alguma violação do acordo, “a comunidade internacional se encarregará de tomar medidas mais contundentes e sanções mas duras”. Para isso, Netanyahu assegurou que os israelenses “vigiarão rigidamente” as atividades iranianas, porque ele está convencido de que o acordo só servirá para que o Irã “tenha mas meios para propagar suas atividades terroristas”.


PROGRAMA NUCLEAR IRANIANO
Início O início do programa nuclear iraniano ocorreu em 1970, ainda durante o regime do xá. Naquela época, a iniciativa tinha apoio dos EUA e da Europa. Depois veio a Revolução Islâmica e em 1982 , o governo iniciou a criação, em Isfahan, de um centro de tecnologia nuclear. Três anos depois, foram descobertas minas de urânio em seu território.

Motivos para o programa O irã justifica as pesquisas na área pela necessidade de diversificar as fontes de energia. O país tem grandes reservas de gás e petróleo, do que é um dos maiores exportadores mundiais, mas sua capacidade de refino é pequena. Por isso, importa 40% do combustível que consome. Os EUA e os países europeus, porém, contestam essa explicação, com o argumento de que o Irã possui muito petróleo e que não precisariam de energia nuclear.Resultado de imagem para programa nuclear iraniano 2016
Sanções ao país Nos últimos anos, a questão nuclear tornou-se um elemento de afirmação nacional do Irã. A negativa do país em paralisar o programa nuclear já havia levado a Organização das Nações Unidas (ONU) a aprovar três pacotes de sanções com o país – em dezembro de 2006, em março de 2007 e em março de 2008. Após as primeiras sanções, o Irã não permitiu mais visitas de técnicos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) a locais não vinculados a atividades atômicas.