terça-feira, 23 de setembro de 2014

Demografia: Brasil sobe uma posição no IDH, mas ainda é um país desigual

Um relatório da ONU divulgado em julho deste ano relata que o Brasil passou da 80ª para a 79ª posição anual de desenvolvimento, medido pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
Em 2012, o IDH do Brasil era de 0,742. Em 2013, o índice subiu para 0,744 - passando da 80ª para a 79ª posição, em uma lista de 187 países analisados pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
Com escala de 0 a 1, o IDH é uma medida que avalia o progresso de um país em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda (renda média per capita), saúde (expectativa de vida ao nascer) e educação (taxas de alfabetização de adultos e matrícula em todos os níveis de ensino). Quanto mais próxima de 1, melhor a situação do país.
A primeira colocada no ranking foi a Noruega, com IDH de 0,944. Em seguida aparecem Austrália, Suíça, Holanda, Estados Unidos, Alemanha, Nova Zelândia, Canadá, Cingapura e Dinamarca, todas com desenvolvimento muito elevado. Já a pior colocação ficou para o Níger, com apenas 0,337.
Arte/UOL
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Mecanismo do IDH

O mecanismo do IDH foi criado em 1990 pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq e pelo economista indiano Amartya Sem, que ganharia o Prêmio Nobel de Economia de 1998. O objetivo era que o Pnud conseguisse medir o bem-estar de um país e não apenas o seu crescimento econômico e PIB (Produto Interno Bruto).
O PIB mede a base de uma economia e considera apenas o crescimento econômico, a soma das riquezas produzidas por um país. Já o IDH analisa outras dimensões importantes, que destacam a qualidade de vida de um povo e seu desenvolvimento social.
O atual IDH do Brasil de 0,744 é composto por dados como expectativa de vida de 73,9 anos, renda per capita anual de US$ 14.275 por ano e escolaridade média de adultos de 7,2 anos.  
Apenas 38 nações melhoraram no ranking no último ano. Para a ONU, isso seria o reflexo da desaceleração do crescimento global devido à crise financeira que começou em 2008.
Apesar disso, o IDH brasileiro é superior à média da América Latina e do Caribe (0,740) e ao IDH calculado para os países de Alto Desenvolvimento Humano (0,735), grupo do qual o Brasil faz parte. Mas em relação aos países vizinhos da América do Sul, estamos atrás do Chile (41º), da Argentina (49º) e do Uruguai (50º).

Melhoras

O IDH brasileiro apresentou melhoras consistentes da condição de vida das pessoas nos últimos 30 anos. O índice aumentou 36,4% desde 1980.  Entre 1991 e 2010, por exemplo, a renda per capita mensal dos brasileiros teve um ganho de R$ 346,31, e a expectativa de vida cresceu 14% no país.
O relatório de Desenvolvimento Humano 2013 do Pnud afirma que, no caso do Brasil, o aumento substancial do índice foi puxado por algumas variáveis como a estabilidade econômica e a implementação de programas de saúde pública, educação e assistência social.
São exemplos a criação do SUS (Sistema Único de Saúde), o aumento do salário mínimo e a implementação de programas de inclusão social e distribuição de renda, como o Bolsa Família e o Prouni (Programa Universidade para Todos).
O texto também avalia que o progresso de uma sociedade não depende apenas de uma melhoria média do IDH e que a redução da desigualdade é um componente fundamental para o desenvolvimento local.
DESIGUALDADE
Em 2010, o Pnud criou o IDH-D (Índice de Desenvolvimento Humano ajustado à Desigualdade), um indicador para avaliar a desigualdade e que considera, além da média de desenvolvimento, as diferenças nos indicadores de renda, educação e saúde entre a população. Quanto maior a desigualdade, maior o desconto na pontuação.
A ONU calcula que se o IDH fosse considerar a desigualdade de renda, o Brasil perderia dezesseis posições no ranking e a nota alcançada neste último relatório, de 0,744, cairia para 0,542.
Para a ONU, a redução contínua da desigualdade requer uma mudança nos padrões de crescimento para que eles sejam mais inclusivos - baseados em políticas redistributivas e mudanças em normas sociais.
O mundo hoje está mais desigual. Segundo o Pnud, cerca de 40% da riqueza do mundo estão concentrados nas mãos de 1% da população mundial mais rica. A avaliação faz parte do relatório “Humanidade Dividida: Confrontando a desigualdade nos países em desenvolvimento”, divulgado no começo deste ano.
O estudo destaca que no Brasil, onde a desigualdade de renda tem acompanhado a história do país desde os tempos coloniais, o Índice de Gini, que mede a concentração de renda, caiu substancialmente em uma década, passando de 54,2 para 45,9. Quanto mais o valor se aproxima do zero, menor a diferença.

fonte: http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/demografia-brasil-sobe-uma-posicao-no-idh-mas-ainda-e-um-pais-desigual.htm

terça-feira, 9 de setembro de 2014

O que são os rios voadores?

São imensas massas de vapor d’água que, levadas por correntes de ar, viajam pelo céu e respondem por grande parte da chuva que rola em várias partes do mundo


O principal rio voador do Brasil nasce no oceano Atlântico, bomba de volume ao incorporar a evaporação da floresta Amazônica, bate nos Andes e escapa rumo ao sul do país. “O vapor d’água que faz esse trajeto é importantíssimo para as chuvas de quase todo o Brasil”, afirma o engenheiro agrônomo Enéas Salati, da Universidade de São Paulo (USP). Veja a seguir os meandros impressionantes dessa gigantesca corredeira voadora. 

Corredeira voadora 
Volume de água que circula pelo céu é similar à vazão do rio Amazonas 

1- O rio voador nasce no oceano Atlântico. A água evapora no mar, perto da linha do Equador, e chega à floresta Amazônica empurrada pelos ventos alísios. Esse blocão de vapor passa rasante: 80% dele voa a, no máximo, 3 quilômetros de altura 

2- A vazão desse aguaceiro aéreo é da ordem de 200 milhões de litros por segundo (similar à do rio Amazonas), fazendo da Amazônia uma das regiões mais úmidas do planeta, além de provocar as chuvas que desabam diariamente por toda a região 

3- Enquanto passa sobre a floresta, o rio voador praticamente dobra de volume. Isso ocorre porque, ao absorver mais radiação do Sol do que o próprio oceano, a mata funciona como uma gigantesca chaleira, liberando vapor com a transpiração das árvores e a evaporação dos afluentes que correm no solo 

4- No oeste da Amazônia, a massa de umidade encontra uma barreira de montanhas de 4 quilômetros de altura, a cordilheira dos Andes, que funciona como uma represa no céu, contendo a correnteza aérea do lado de cá 

5A- Boa parte do vapor fica acumulada nos próprios Andes, sob a forma de neve. Ao derreter, essa água desce as montanhas, dando origem a córregos que, por sua vez, formarão os principais rios da bacia Amazônica, como o Amazonas 

5B- Nem todo vapor que encontra os Andes fica por ali. Cerca de 40% dessa cachoeira celeste segue rumo ao sul. A umidade passa por Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo, terminando a viagem no norte do Paraná, cerca de seis dias depois 

6A - Enquanto flui em caudalosos veios rumo ao mar, muito da água proveniente dos rios voadores é absorvido pela floresta. Quando transpiram, as árvores então liberam esse líquido em forma de vapor, fechando o ciclo que novamente alimentará a corrente no céu 

6B- Por fim, o rio voador cai em forma de chuva. Mais da metade da precipitação das Regiões Centro-Oeste e Sudeste vem dos rios aéreos da Amazônia. Além desse veio principal, outras 20 correntezas cruzam o céu do país, carregando um volume de água equivalente a 4 trilhões de caixas-d’água de 1 000 litros 

CAÇADORES DE NUVENS 
Pesquisadores “surfam” as correntezas aéreas para estudar o fenômeno 

Desde 2008, um projeto científico tenta conhecer melhor os rios voadores. O líder da pesquisa é Gerard Moss, engenheiro e explorador francês naturalizado brasileiro. O trabalho dele consiste em voar com um monomotor coletando vapor d’água. “Enquanto todos os pilotos evitam as nuvens, eu vou direto para elas”, diz. Em seu avião, Moss caça a umidade usando tubos de 40 centímetros resfriados a 70 graus negativos. Numa temperatura tão baixa, qualquer vapor que entra no tubo se transforma, imediatamente, em água. As gotas são então armazenadas para a análise em laboratório.

fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/sao-rios-voadores-imensas-massas-vapor-d-agua-levadas-correntes-ar-534365.shtml

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

De onde vem o dinheiro que financia o Estado Islâmico (grupo radical que controla alguns territórios no Iraque)?

Segundo Hagel, o EI não seria um grupo terrorista, mas um projeto de Estado com armas sofisticadas, uma ideologia totalitária e recursos abundantes obtidos por meio de financiamento externo, o que permitiria ao grupo continuar sua ofensiva e lançar as bases de seu califado.

Até alguns meses atrás, o Isis era apenas um dos vários grupos armados sunitas radicais que se opunham ao regime de Bashar al-Assad na Síria. A organização havia ganhado notoriedade por ser uma dissidência da Al-Qaeda, a qual acusou de não ser suficientemente radical.
Mais recentemente, o Isis tornou-se EI e agora é a manifestação mais violenta da insurgência sunita que tenta impor uma versão ultraconservadora do Islã, contra o que considera uma expansão do xiismo liderado pelo Irã, com forte influência no Iraque, na região.
O cerco e a expulsão das minorias cristãs yazidis do Iraque e a decapitação do jornalista americano James Foley são os últimos exemplos da crueldade com que o EI atua.
Mas, diferentemente de outros grupos de insurgentes, o EI chama atenção por seu poderio econômico.

Fontes energéticas

EI | Crédito: AFP
Estado Islâmico tem uma grande capacidade econômica
Uma das razões origens do dinheiro que financia o grupo está na principal matéria-prima do Iraque: o petróleo.
O país é o segundo maior produtor do óleo no mundo, depois da Arábia Saudita.
Há alguns meses, o EI controla uma parte importante da indústria do petróleo iraquiano no norte do país. Mossul, uma das cidades dominadas pelo grupo, produz cerca de 2 milhões de barris de petróleo por dia.
O EI também controla a planta de gás de Shaar e Baiji, cidade onde se localiza a maior refinaria de petróleo do país.
A partir desta área, os insurgentes cortaram o fornecimento de petróleo para a Turquia enquanto tentam avançar sobre as fontes de energia abundantes do Curdistão iraquiano.
O EI não destrói as fontes energéticas que conquista militarmente. O objetivo é usar os lucros para construir o tão propalado Estado islâmico ou califado.
A estratégia é semelhante à de outros grupos armados que estabeleceram nas últimas décadas redes econômicas ilícitas para seu financiamento, compra de armas e enriquecimento de suas lideranças.
Na Libéria e em Serra Leoa, por exemplo, proliferaram na década de 90 grupos insurgentes que competiam entre si pela exploração e pelo tráfico de diamantes.
No Afeganistão, por outro lado, o cultivo da papoula é a principal fonte de renda para o Talebã e outros setores políticos. Já na Colômbia há diversos vínculos entre grupos insurgentes, paramilitares, políticos e traficantes de drogas.
No caso do Estado islâmico, o grupo ganhou experiência na Síria antes de cruzar a fronteira e se estabelecer no Iraque.
"Uma das razões pelas quais o EI tem sido capaz de crescer tão fortemente é que pode importar recursos e ativistas da Síria", diz Patrick Cockburn, em seu livro The Jihadis Return: ISIS and the New Sunni Uprising ("O Retorno dos Jihadistas: Isis e o Novo Levante Sunita", em tradução livre do inglês).
No Iraque, o EI ganhou rapidamente terreno junto à comunidade sunita após a invasão dos Estados Unidos ao Iraque em 2003.
Com a queda de Saddam Hussein, os sunitas foram marginalizados e reprimidos por governos xiitas que se revezaram no poder, especialmente o do premiê Nouri al-Maliki.
Ao mesmo tempo, comandantes militares de Saddam Hussein e funcionários do Partido Baath, expulsos de seus cargos após a invasão, se aliaram ao EI.

Usar os dividendos das fontes energéticas para financiar atividades e impor regimes autoritários não é uma exclusividade do grupo.
Peter Custers, autor do livro Questioning Globalized Militarism("Questionando o Militarismo Globalizado", em tradução livre do inglês), indica que muitos governos da região usam a renda proveniente do petróleo para comprar armamento pesado e armas dos Estados Unidos e Europa e poder, assim, reprimir seus povos.

Os circuitos e as ligações

Theodore Karasik, do Institute for Near East and Gulf Military Analysis (INEGMA) e Robin Mills, autor do livro The Myth of the Oil Crisis ("O Mito da Crise do Petróleo", em tradução livre do inglês), calculam que o EI ganhe U$ 1 milhão (R$ 2,3 milhões) por dia somente com a exploração do petróleo iraquiano.
Os especialistas argumentam que o valor poderia chegar, no entanto, a US$ 100 milhões (R$ 230 milhões) se somadas as rendas provenientes do comércio da matéria-prima no Iraque e na Síria.
Com visão de mercado, o EI vende o barril a US$ 30 no mercado negro – enquanto o preço internacional supera os US$ 100 – por meio de intermediários na Turquia e na Síria.
Mas o petróleo não é a única fonte de renda para EI.
No caso da Síria, um estudo do Centro de Análise do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR na sigla em Inglês) indica que o EI e outros grupos armados estão instalando um sistema de impostos em áreas conquistadas ao mesmo tempo em que promovem atividades ilegais como roubo de reservas de dinheiro de bancos locais, contrabando de carros e armas, sequestros e bloqueios de estradas.
"Uma economia de guerra está tomando conta da Síria, em particular nas zonas controladas pela oposição, criando novas redes e atividades econômicas que alimentam a violência", diz o estudo.
A pesquisa afirma que o EI também apreendeu grandes quantidades de armas do Exército iraquiano e grupos armados sírios contra os quais luta.
Na Síria, o grupo chegou, inclusive, a desmantelar fábricas inteiras e vender as estruturas na Turquia.
Segundo Jihad Yazigi, autor do relatório para o ECFR, lideranças de grupos armados também estariam interessadas em prolongar o conflito para continuar a receber remessas internacionais de países aliados.
Essa 'economia de guerra', diz ele, cria incentivos para diferentes indivíduos e atores que não teriam interesse no fim do conflito.
Segundo os especialistas, esses novos agentes econômicos, que controlam fontes de energia, contrabando, roubo e venda de armas, sequestros e impostos especiais a minorias religiosas, operariam sem conexão com autoridades do governo.
Peshmerga | Crédito: AFP
Ocidente vem financiando os peshmerga - braço armado do governo curdo - para combater o EI no Iraque
Mas alguns outros mantêm laços com o poder institucionalizado, aponta o relatório do Conselho Europeu de Relações Exteriores. O resultado é uma desintegração do Estado a partir de sua base econômica.

Estados fracos e sectarismo

O apoio da Arábia Saudita e dos países do Golfo aos sunitas para combater xiitas e seus aliados está na raiz do sucesso econômico do EI e de outros grupos jihadistas, afirma o jornalista Patrick Cockburn e outros analistas.
Segundo eles, esses países já teriam canalizado centenas de milhões de dólares para insurgentes sunitas na Síria.
Como ocorreu no Afeganistão com o apoio que os insurgentes recebiam dos países ocidentais nos anos 80, o EI tem crescido através de uma combinação de fraqueza do Estado, do sectarismo por parte do Estado, e do apoio econômico e militar externo para a insurgência.
Para o regime do presidente sírio Bashar Assad, essa fragmentação da economia levará à perda de receita de que ele precisa para prestar serviços básicos e manter o apoio popular nas áreas que controla, pagar o Exército e começar a reconstruir a Síria.
No Iraque, o novo primeiro-ministro, Haidar Abadi, tem menos território e recursos energéticos para lançar uma política mais inclusiva.
Especialistas em terrorismo questionam se o EI pode instaurar um Estado e consolidar uma estrutura econômica.
Para Yezid Sayigh, do Carnegie Middle East Center, o EI só é forte onde tem apoio, o qual poderia diminuir dado à brutalidade das ações do grupo. A resistência dos curdos iraquianos e o que restou do Estado iraquiano, que é apoiado pelos Estados Unidos, pode freá-lo, mas não fazê-lo desaparecer.
Além disso, criar e manter uma economia estatal é complicado. Em muitos casos, a infraestrutura de exploração de petróleo e gás é antiga e necessita de uma renovação tecnológica difícil de ser obtida.
O Estado Islâmico e seu modelo de economia política, bem como o papel de atores externos, têm tornado a região ainda mais complicada.
(*) Mariano Aguirre é diretor do instituto Norwegian Peacebuidling Resource Centre (NOREF) www.peacebuilding.no
fonte: BBC