quarta-feira, 13 de maio de 2015

Sete lugares que vivem à espera da próxima catástrofe

terremoto que aconteceu no sábado no Nepal causou pelo menos 5.000 mortes. Infelizmente, não foi uma surpresa: especialistas há muito tempo alertavam sobre a possibilidade de um terremoto no país. A última vez apenas uma semana antes do tremor, afirmando que poderia ser um desastre comparável ao de 1934, que deixou entre 7.000 e 12.000 mortos. De fato, foi o quarto terremoto no Nepal de magnitude superior a 6 graus na escala Richter desde 1980 e o maior desde o sismo de 1934, que atingiu 8,1 graus nessa escala.
Não é a única região do mundo que vive sob ameaça constante de um desastre natural. Vamos examinar algumas.
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1. Nepal: a catástrofe previsível


Nesse caso, o alarme vinha não tanto do fato desses terremotos serem (em parte) esperados, mas porque suas consequências seriam especialmente graves, levando em conta que Katmandu cresce cerca de 6,5% a cada ano e que muitos nepaleses moram em prédios que não estão preparados para esses desastres, segundo explicou a revista The Atlantic em um artigo intitulado precisamente “O terremoto que estava por vir no Nepal”. Para fazer uma comparação, o mesmo terremoto na Califórnia seria 100 vezes menos fatal.A Cruz Vermelha Britânica explicou, em outubro de 2014, que o Nepal é a 11a região do mundo sob risco de terremotos, em especial o vale de Katmandu. Não podemos nos esquecer que a cordilheira do Himalaia é resultado do movimento entre placas tectônicas sob a Ásia Central, que convergem cerca de 4 ou 5 centímetros a cada ano. As escaladas ao Everest e a outros picos da região costumam ser acompanhadas de tremores, e a região registra grandes terremotos a cada 70 anos, aproximadamente.

2. O Pacífico: The Big One

As regiões de mais risco de terremotos estão localizadas nas fronteiras das placas tectônicas: na costa americana do Oceano Pacífico, do Chile ao Canadá, e no Japão. Também são regiões de risco a Ásia Central (do Himalaia ao Irã) e o Mediterrâneo: Marrocos, Argélia e Turquia.
Na Costa do Pacífico dos Estados Unidos e do Canadá comenta-se sobre The Big One, o próximo terremoto de grande magnitude que ocorrerá na região, que está na falha de San Andreas. Segundo a BBC, “tanto no sul da Califórnia como na região da baía de San Francisco existe uma probabilidade superior a 90% de que nas próximas décadas ocorra um sismo de mais de 7 graus de intensidade”.
O Escritório dos Serviços de Emergência da Califórnia lembra que, mesmo com os planos de emergência previstos, “os cidadãos terão de se virar sozinhos por pelo menos 72 horas”, um conselho que se repete em outras regiões de risco como no Canadá e no México, país afetado por cinco placas tectônicas.
Segundo Luis Pablo Beauregard explicou no EL PAÍS, “os tremores no México mudam a vida”. Por exemplo, os cidadãos preferem morar no último andar ou no primeiro, para evitar o risco de morrerem esmagados. Também há serviços que enviam alertas ao celular com um minuto de antecedência sobre um terremoto, tempo que pode ser suficiente para se proteger.
O termo “the big one” também é usado no Japão, que em 11 de março de 2011 sofreu o maior terremoto já registrado no país, causando quase 16.000 mortes. O terremoto, que foi seguido por um tsunami, também provocou estragos na central nuclear de Fukushima e deslocou o país em 2,4 metros.
O geólogo Donald R. Prothero afirma em seu livro Catastrophes que os terremotos parecem ser os desastres naturais que “inspiram mais medo e temor”. As razões são complexas, escreve, mas a maioria dos psicólogos concorda que um dos principais elementos que causam medo dos tremores é que “não são previsíveis”. E acrescenta: “A maioria dos desastres naturais, incluindo furacões e tornados, tempestades e inclusive vulcões, costuma dar algum tipo de aviso”. No entanto, “ninguém pode prever os terremotos com sucesso a curto prazo”.
Em vermelho, as regiões com maior risco de terremotos. / U. S. GEOLOGICAL SURVEY
A professora e advogada Susan Estrich diz que quando se mudou para Los Angeles, o fato de se preparar para um terremoto fazia com que vivesse com medo diante da possibilidade de uma dessas catástrofes. É preciso considerar que esses preparativos incluíam deixar na creche uma sacola com um brinquedo e um objeto familiar para seus filhos, além do contato de alguém que não morasse no estado da Califórnia, caso não fosse possível localizá-la. Mas, segundo seu relato, chega-se ao ponto em que a pessoa tem de perceber que “não pode se preocupar com o que não pode prever” e é preciso aprender a viver com o medo dos terremotos. E conclui: “Hoje será outro lindo dia aqui em Pompeia”.

3. O Vesúvio: morar nas encostas de um vulcão

Mais de 600.000 pessoas moram nas encostas e arredores doVesúvio, o vulcão que sepultou Pompeia e Herculano no ano 79. Desde então, entrou em erupção em cerca de 30 ocasiões, sendo a última em 1944, quando destruiu 88 bombardeiros norte-americanos. A população teve tempo de se salvar. E inclusive de assar castanhas e acender cigarros na lava. No entanto, na erupção de 1906 cerca de cem pessoas morreram.
Segundo um alerta de um especialista japonês em 2013, o vulcão poderia voltar a entrar em erupção. As autoridades italianas têm previsto um plano de ação que evacuaria mais de meio milhão de pessoas em 72 horas. Os mais precavidos (ou pessimistas) acreditam que seria necessário se preparar para uma erupção mais violenta e repentina do que foi previsto nos planos, mas a verdade é que a população está mais preocupada com o tráfico e a criminalidade.
O Vesúvio visto de Nápoles. / GETTY IMAGES

4. Java: 30 vulcões e 120 milhões de pessoas

O Vesúvio não é, absolutamente, o único vulcão ativo que implica num risco. De fato, mais de 500 milhões de pessoas vivem perto de vulcões: 8% da população mundial. Embora seja arriscado viver perto de uma destas montanhas, não podemos esquecer que a maioria está inativa durante muito tempo e proporciona minerais, energia térmica e solos férteis. Só em Java (Indonésia) vivem 140 milhões perto de 30 vulcões, como lembra a National Geographic. O Merapi matou 60 pessoas em 1994 por causa de uma nuvem de gás e outras 353 em 2010. Em 2006, alguns habitantes locais se negavam a ser evacuados, já que consideravam que a montanha era sagrada. No ano passado, entrou em erupção o Sinabug, em Sumatra (outra ilha da Indonésia com atividade vulcânica). Morreram 15 pessoas. Java e Sumatra também correm risco de inundações, avalanches, tsunamis e secas.
E não é só: na semana passada lemos como no Chile foram evacuadas 70.000 pessoas que vivem perto do vulcão Calbuco, que entrou em erupção depois de 43 anos de inatividade. No México, o vulcão Popocatépetl está a 50 quilômetros de Puebla e por estes dias está com atividade de baixa intensidade. O monte Fuji, no Japão, está inativo há mais de 300 anos, mas no ano 2000 e em 2001 terremotos de fraca intensidade fizeram temer que estivesse despertando. O vulcão poderia ameaçar a vida de cerca de oito milhões de pessoas na região de Tóquio.
O monte Sinabung em janeiro de 2014. / BINSAR BAKKARA / AP
Quando o vulcão é um supervulcão que só entra em erupção uma vez em centenas de milhares de anos, misturam-se a fascinação e o temor. O supervulcão de Yellowstone é “milhares de vezes mais poderoso que um vulcão normal”, explica a revista Vox. Se entrasse em erupção, a nuvem de cinzas cobriria regiões de vários estados: Wyoming, Montana, Idaho e Colorado, podendo chegar inclusive a cidades como Los Angeles, San Francisco, Portland e Seattle. O risco é muito pequeno, já que esse vulcão só teve uma grande erupção três vezes na história: há 2,1 milhões de anos, há 1,3 milhão de anos e há 664.000 anos.

5. As Maldivas: destinadas a desaparecer

As Maldivas são um paraíso de areias brancas e águas azul-turquesa, mas como lembrou a BBC, 80% de suas 1.200 ilhas (200 delas habitadas) estão a pouco mais de um metro acima do nível do mar, que por sua vez está subindo 0,9 centímetro ao ano: “Em 100 anos as Maldivas poderiam se tornar inabitáveis” e os 400.000 cidadãos do país teriam de ser evacuados.
A capital, Malé, está rodeada por um muro de três metros de altura, o que não é de estranhar se levarmos em conta as frequentes inundações provocadas pelas marés (para não falar do tsunami de 2004). O governo das Maldivas está tentando aliviar os efeitos da mudança climática reflorestando as ilhas e observando de perto a erosão das praias, mas também estão sendo construídos mais resorts de luxo para o turismo. A revista Business Insider lembrou que as Maldivas não são as únicas ilhas que correm esse risco: a lista inclui Kiribati, as Seychelles, as ilhas Torres, Tegua e as ilhas Salomão, entre outras.
Rakkedhoo, um dos atóis das ilhas Maldivas, que poderiam desaparecer se o nível do mar continuar subindo. / GETTY IMAGES

6. Oklahoma: o beco dos tornados

O Tornado Alley (beco dos tornados) é uma ampla região dos Estados Unidos situada entre o Texas e Dakota do Norte onde são frequentes os tornados entre abril e setembro, quando o ar frio do Canadá se encontra com o ar tropical do Golfo do México. Só na região metropolitana de Oklahoma, onde vive 1,3 milhão de pessoas, houve mais de 120 tornados desde 1890. A região não passou mais de cinco anos sem um tornado (entre 1992 e 1998), embora a série tenha acabado com quatro em 13 de junho. Apesar de que os sistemas de detecção melhoraram muito, continuam havendo vítimas mortais. 11 pessoas morreram em maio de 2013, também em Oklahoma, quando aconteceu o tornado mais largo da história dos Estados Unidos. Três delas eram “caçadores de tormentas”.

7. Haiti: sem proteção natural para tormentas, furacões e terremotos

O Haiti é a metade ocidental da ilha Espanhola e foi colônia francesa entre 1697 e 1804. A outra metade é a República Dominicana, antiga colônia espanhola. Tal como explica Jared Diamond em Colapso, enquanto os espanhóis estavam muito ocupados com seus problemas em outras partes do mundo, os franceses se dedicaram ao cultivo intensivo da cana-de-açúcar e cortaram árvores para exportar madeira. Além disso, utilizaram a ilha como porto em seu tráfico de escravos africanos. O Haiti continuou explorando a cana-de-açúcar depois de sua independência e sofreu ditaduras sangrentas como as de “Papa Doc” Duvalier e seu filho.
Em consequência disso, esta metade da ilha ficou na pobreza e desmatada. Tal desmatamento também é responsável pelo fato de a chuva não encontrar obstáculos ao cair pelas encostas das montanhas, por isso não só os furacões, mas também as tempestades tropicais são um risco por causa dos deslizamentos de terra: em 2004 morreram 2.600 pessoas durante uma dessas tempestades. De fato e conforme aponta a revista Wired, o desmatamento poderia ter contribuído para o terremoto de 2010, depois da erosão provocada pelos dois furacões e pelas duas tormentas tropicais de 2008.
Mulher estende roupa entre os escombros do terremoto do Haiti, em 2010. / GORKA LEJARCEGI

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Agrotóxicos: Brasil é o maior consumidor mundial em 2014

Os agrotóxicos são produtos químicos sintéticos usados para matar insetos, pragas ou plantas no ambiente rural e urbano. Plantas absorvem parte dessas substâncias e esses resíduos acabam parando na maioria da mesa dos brasileiros, em alimentos que comemos todos os dias. 
Essas substâncias não estão presentes apenas em alimentos in natura como frutas, legumes e verduras, mas também em produtos alimentícios industrializados, que têm como ingredientes o trigo, o milho e a soja, por exemplo. Elas ainda podem estar presentes nas carnes e leites de animais que se alimentam de ração com traços de agrotóxicos e até no leite materno. 
Em abril de 2015, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) divulgou um relatório sobre o uso de agrotóxicos nas lavouras do país e seus impactos sob o meio ambiente e à saúde. Segundo o instituto, o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos. O país é um dos maiores produtores agrícolas do mundo e utiliza agrotóxicos em larga escala. Para o agricultor, os agrotóxicos são recursos para combater as pragas, controlar o aparecimento de doenças e aumentar a produção. 
Em dez anos, a venda de pesticidas no mercado agrícola brasileiro aumentou de R$ 6 bilhões para R$ 26 bilhões. Atualmente, o país ultrapassou a marca de 1 milhão de toneladas, o que equivale a um consumo médio  de 5,2 kg de agrotóxico ao ano por pessoa. 
Além de danos ambientais, a equipe do Inca alerta sobre os riscos de doenças como o câncer. Segundo o relatório, o que faz um alimento saudável é sua composição. Os agrotóxicos na alimentação podem alterar o funcionamento normal das células do corpo humano, causando mutações e maior probabilidade do desenvolvimento de doenças no futuro. 
No Brasil, cerca de 450 substâncias são autorizadas para uso na agricultura. O Inca alerta ainda sobre o uso de muitos princípios ativos que já foram banidos em outros países. Dos 50 produtos mais utilizados na agricultura brasileira, 22 são proibidos na União Europeia. 
Em 2014, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fez um levantamento com amostras de alimentos em todo o país. No estudo, 25% apresentavam resíduos de agrotóxicos acima do permitido. O uso indiscriminado e abusivo desses produtos e a falta de fiscalização em relação a níveis seguros de substâncias aumenta o risco para a saúde dos brasileiros. 
Para o Inca, antes de liberar a venda de defensivos agrícolas, o Brasil precisa de pesquisas sobre os potenciais efeitos e riscos à saúde humana decorrentes da exposição aos químicos, particularmente sua relação com determinados tipos de câncer.  
A relação entre o consumo de agrotóxicos e o desenvolvimento de câncer e outras doenças já é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Uma pesquisa publicada na revista científica “The Lancet”, em março deste ano, pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), classifica cinco agrotóxicos como prováveis agentes cancerígenos: tetraclorvinfós, parationa, malationa, diazinona e o glifosato. Esses agentes são liberados no Brasil, mas apenas o glifosato possui registro de produto. Em abril de 2015, a Anvisa anunciou que vai revisar a liberação do uso do produto no país. 
Em 2012, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrascp) divulgou um relatório com estudos que comprovam que agrotóxicos fazem mal à saúde e provocam efeitos nocivos com impactos sobre a saúde pública e a segurança alimentar e nutricional da população. 
Segundo o relatório, as intoxicações agudas por agrotóxicos afetam principalmente os trabalhadores rurais que entram em contato com doses altas desses químicos via pele ou pelos pulmões. Eles podem apresentar problemas como irritação da pele e olhos, coceira, cólicas, vômitos, diarreias, espasmos, dificuldades respiratórias, convulsões, desregulação endócrina e até a morte. 
Já as intoxicações crônicas podem afetar toda a população que consome os alimentos com resíduos de agrotóxicos. Os efeitos adversos decorrentes da exposição crônica aos agrotóxicos podem levar vários anos para aparecer, dificultando a correlação com o agente. 
Dentre os efeitos associados à exposição crônica a ingredientes ativos de agrotóxicos podem ser citados infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer.

Meio ambiente, transgênicos e agrotóxicos

Um fator que colaborou para colocar o Brasil no topo do ranking de consumo foi a liberação do uso de sementes transgênicas (geneticamente modificadas) no país. O cultivo dessas sementes exige o uso de grande quantidade de agrotóxicos. 
Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de transgênicos, atrás apenas dos Estados Unidos. São mais de 42 milhões de hectares de áreas plantadas no país com esse tipo de semente, principalmente na produção de soja e milho. 
Os agrotóxicos também contaminam o meio ambiente. A pulverização dos químicos acontece em sua maior parte por avião, contaminando o ar da região e áreas próximas, como cidades vizinhas que podem receber o químico levado pelo vento. Isso afeta animais como abelhas e insetos, que são importantes para o equilíbrio do ecossistema. No solo, os químicos podem influenciar na falta de compostos orgânicos e microorganismos e podem contaminar a água de córregos, rios, lençóis freáticos ou aquíferos.  
Alimentos orgânicos são aqueles que não usam fertilizantes sintéticos, agrotóxicos ou pesticidas em seu método de cultivo. Os solos são enriquecidos com adubos naturais tornando esse tipo de alimento mais saudável e nutritivo. Apesar dos benefícios, o alimento orgânico é mais caro no Brasil, pois a produção é de baixa escala e a maior parte é proveniente da agricultura familiar, o que impacta no custo de distribuição e comercialização. 
O uso de agrotóxicos se intensificou no Brasil na década de 1970, quando o governo buscou fomentar a produção de agrotóxicos para estimular o crescimento do agronegócio e garantir alta eficiência produtiva. Nesta época, o financiamento bancário para compra de sementes era atrelada ao adubo e o agrotóxico. Atualmente, a indústria química de defensivos agrícolas é isenta de impostos. 
Uma das soluções para reduzir o uso dessas substâncias seria investir em projetos de larga escala de agroecologia, um meio ecologicamente correto e viável de se manejar e cultivar as plantas. Neste tipo de plantio, podem ser usadas técnicas conhecidas por engenheiros agrônomos e que não utilizam  químicos, como sistemas de irrigação eficiente, biofertilizantes que agem como inseticidas biológicos, alternância de plantações e rotação de espécies, adubação com restos orgânicos, compostagem, entre outros. 
Países como a França, o maior produtor agrícola da Europa, já estão desenhando planos para a promoção de um modelo agroecológico, que concilie os níveis de produtividade e o impacto ambiental. 
 Por Carolina Cunha