terça-feira, 26 de agosto de 2014

Falta de bebês pode levar metade das cidades japonesas à extinção

26.ago.2014 - Isamu Yoshida, 65, proprietário de uma loja de empanados fritos aberta pelos pais há mais de 50 anos, em Onjuku

É verão e a cidade praiana de Onjuku, na província de Chiba, está lotada de turistas. A população local, que beira os 7,5 mil moradores, mais do que dobra nos meses de julho e agosto, auge da estação mais quente no Japão.

Mas Isamu Yoshida, 65, proprietário de uma loja de empanados fritos, não se entusiasma com as vendas, apesar de não ter concorrência.

"Não posso reclamar das vendas no verão. Porém, no restante do ano, praticamente fico no vermelho", conta à BBC Brasil o comerciante, que toca a pequena e antiga loja aberta pelos pais há mais de 50 anos.

Localizada a cerca de duas horas de trem da capital japonesa, Onjuku sofre de um problema comum a quase metade das cidades, distritos e povoados japoneses: a queda constante e crônica da população, que pode levar inclusive estes municípios à extinção.

"É triste ver a cidade definhando aos poucos", lamentou Yoshida. "Todo mês vemos no jornal local que o número de mortes é sempre maior do que o de nascimentos", contou.

Segundo estatística do governo japonês, a população de Onjuku diminui em média 0,5% ao ano. Em 1995, a população era de 8.129 pessoas. Em 2013, caiu para 7.632.

Se continuar neste ritmo, em 50 anos a população local será pouco mais de 2,5 mil pessoas.

Dificuldades

Segundo o relatório de uma subcomissão do Conselho de Política do Japão, quase metade dos municípios de todo o país poderá ter dificuldades para continuar operando normalmente até 2040.
O estudo deu especial atenção à população de mulheres com idade de 20 a 39 anos, pois elas são consideradas um fator-chave que irá determinar o futuro da população japonesa.

O grupo, liderado pelo ex-ministro de Assuntos Internos, Hiroya Masuda, definiu cidades, vilas e aldeias cujas populações provavelmente diminuirão em pelo menos 50% ao longo do período 2010-2040.

Pesquisadores da comissão explicaram à BBC Brasil que a estimativa foi feita com base em várias estatísticas do Instituto Nacional de População e Pesquisa da Segurança Social.

No total, 896 municípios, ou 49,8% do total do país, foram indicados como locais que podem desaparecer.

O relatório também alertou que 523 localidades cujas populações estão abaixo de 10 mil moradores – o que representa cerca de 30% do total – têm uma alta propensão a "quebrar" já nas próximas décadas, a menos que medidas eficazes sejam tomadas.

Onjuku, visitada pela reportagem da BBC Brasil, está entre estes municípios.

"Infelizmente, esse problema tem sido ignorado há muito tempo, porque ninguém quer falar sobre um futuro desfavorável. Agora, nós devemos reconhecer essa grave questão", comentou à reportagem uma fonte da subcomissão.

Cidade grande


Em contrapartida, a população nas grandes cidades tem aumentado, o que sugere que as pessoas estão deixando os pequenos municípios, onde quase não há oferta de emprego, para buscar oportunidades fora.

Kazuya Shiton, 25, de Onjuku, conta que está planejando deixar a casa dos pais e buscar um emprego melhor em Tóquio ou outra cidade maior.
O jovem, que trabalha na construção de vias públicas, explicou que o serviço atual é ruim e rende pouco dinheiro.

"Aqui também não há locais para lazer para os jovens", lembra. "Todos os meus amigos já se mudaram para outras cidades. Não vejo outra saída."

Para a subcomissão do Conselho de Política do Japão, o problema mais grave é que muitos destes jovens que vão para a capital japonesa não têm filhos.

"Criar uma criança em um ambiente como Tóquio é muito caro. Além da dificuldade de encontrar creches, a assistência é pouca para os pais, o que contribui para a baixa taxa de natalidade verificada na capital japonesa", explicou a fonte da subcomissão.

Para tentar resolver o problema, o governo japonês deve anunciar no próximo mês a criação de um comitê que vai tratar exclusivamente da regeneração de cidades do interior, focado principalmente na criação de postos de trabalho para jovens e no aumento da taxa de natalidade.

Contra a corrente

Por conta própria, o empresário americano Del Ricks abraça a ideia. Instalado em Onjuku apesar dos riscos econômicos, ele é só sorrisos.

Há seis anos, Del Ricks e a companheira, a sul-coreana Kelly Cho, abriram um negócio praticamente de frente para a paradisíaca praia da cidade.
"Não tenho do que reclamar", falou. "Enquanto a maioria dos comerciantes locais trabalha mesmo apenas dois meses por ano, nós temos clientela fixa por oito meses."

Ricks dá aulas de surf, aluga equipamento para a prática do esporte, tem uma lanchonete e ainda oferece quartos para turistas.

"Meu público não é o local. Trabalho com pessoas que vêm de Tóquio", explicou.

Além dos turistas que curtem praia, o casal trabalha principalmente com surfistas – que frequentam a cidade quase o ano todo –, pescadores, mergulhadores e empresas que buscam lugares diferentes para fazer festas para os funcionários.

Para o norte-americano, Onjuku poderia se tornar um local atrativo se o governo investisse mais para trazer jovens empreendedores e aposentados que moram nas grandes cidades.

"Aqui, o custo de vida é muito mais barato, além de ser muito menos estressante", defendeu.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Unifesp recebe pedidos de isenção para vestibular 2015 até o dia 26

A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) está com as inscrições abertas para o pedido de isenção de pagamento de taxa do vestibular 2015 para os cursos do sistema misto – ciências biológicas, engenharia química, ciências biológicas - modalidade médica, fonoaudiologia e medicina.
Os interessados devem fazer o cadastro até as 10h do dia 26 de agosto no site da instituição, onde o aluno deverá preencher os dados pessoais; e obrigatoriamente:
  • Fornecer o número de inscrição do Enem, em 2014, pois servirá para compor as notas do Vestibular Unifesp 2015;
  • Fornecer uma opção de curso;
  • Fornecer o nome da escola onde cursa ou cursou o ensino médio, indicando a natureza: pública municipal, pública estadual, pública federal ou particular com bolsa de estudo integral;
  • Fornecer o Número de Identificação Social - NIS ou preencher os campos destinados ao valor total da renda familiar e à quantidade de pessoas mantidas pela renda informada, para concorrer pela renda socioeconômica;
  • Imprimir o protocolo de inscrição do requerimento para isenção de pagamento da taxa de inscrição;
Encaminhar somente pelo correio, por Sedex ou por qualquer outra modalidade de correspondência com aviso de recebimento - AR, até 26 de agosto, o protocolo de inscrição, acompanhado dos documentos comprobatórios, fazendo constar no envelope:
Vestibular Unifesp 2014 - Pró-Reitoria de Graduação
(Isenção de Pagamento da Taxa de Inscrição)
Rua Sena Madureira, 1500 - 1º Andar, Vila Clementino, São Paulo/SP

Inscrições

As inscrições para os cursos do sistema misto de seleção do vestibular Unifesp 2015 serão realizadas no período de 22 de setembro a 24 de outubro, exclusivamente pela internet, mediante o preenchimento da ficha de inscrição e o pagamento de taxa no valor de R$ 124.

domingo, 3 de agosto de 2014

Transposição do São Francisco: Obra de integração pretende garantir água no sertão

  • Mapa com os eixos do rio São Francisco
    Mapa com os eixos do rio São Francisco
Transpor as águas do rio São Francisco é um sonho antigo que remonta ao século 19, durante o governo de Dom Pedro 2º. Em 1877, o intendente do Crato, no Ceará, apresentou ao Imperador um projeto que levaria águas do rio São Francisco até o rio Jaguaribe (CE). Mas estudos indicaram que não havia recursos técnicos para o curso da água superar o relevo da Chapada do Araripe, na divisa do Estado.
Desde então, muitas outras propostas surgiram, mas a tecnologia e a solução efetiva viriam mais de 100 anos depois. Após uma crise de abastecimento hídrico no Nordeste em 1995, a transposição passou a ser vista como uma alternativa viável para aliviar a seca e garantir água para a região do semiárido.
A obra de transposição do rio São Francisco é o maior projeto de infraestrutura hídrica do país e teve início em 2007. Ela prevê a construção de 720 quilômetros de canais (mais do que a distância entre Rio de Janeiro e São Paulo) que vão integrar a bacia hidrográfica do São Francisco a rios temporários (que fluem apenas na estação de chuvas), açudes e reservatórios de quatro Estados.
O “Velho Chico”, como o rio São Francisco é popularmente conhecido, é o terceiro maior rio do país, com aproximadamente 2.700 km de extensão. Ele nasce em Minas Gerais e banha os Estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, desaguando no Oceano Atlântico.
Seu curso é fundamental para a sobrevivência dos nordestinos e representa 70% de toda a oferta de água potável no Nordeste. Além de ser uma importante fonte de água para consumo, o São Francisco também abriga usinas hidrelétricas como Três Marias, Sobradinho, Itaparica e Xingó.
Embora chamada de “transposição” por muitos setores, a obra não vai desviar o curso do rio, mas o volume dele. Ela vai integrar seu leito a bacias hídricas da região - a estimativa é captar inicialmente 1,4% da água do São Francisco. A estrutura pretende beneficiar cerca de 12 milhões de pessoas que vivem em mais de 390 municípios do sertão.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, a água será bombeada do rio e descerá por declive através de canais a céu aberto em duas direções: o eixo Leste, que levará água do interior do Pernambuco à Paraíba, e o eixo Norte, que sairá do interior do Pernambuco e passará pelo Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Com os dois Eixos funcionando, serão beneficiadas as bacias dos rios Jaguaribe (CE), Apodi (RN), Piranhas-Açu (PB-RN), Paraíba (PB), Moxotó (PE) e Brígida (PE).
Esses canais vão cruzar o chamado Nordeste Setentrional, região tradicionalmente castigada pela falta de chuva e que se situa no bioma da caatinga, de clima semiárido e seco, e que dispõe de pouca água subterrânea.
Em 2013, a região assistiu à maior seca dos últimos 40 anos, fato que impactou a vida de milhares de agricultores que tiveram suas lavouras perdidas e o gado morto. A seca prolongada e sem segurança hídrica também aumenta o desemprego, o que estimula o êxodo rural e torna a economia local mais frágil.
Outro problema que a estiagem gera é a chamada “indústria da seca”, quando políticos se aproveitam da situação de flagelo da população para aumentar seu poder de influência. Esse uso político é histórico no Nordeste e acontece até hoje. Para algumas organizações do semiárido, como a ASA (Articulação do Semiárido), em alguns municípios é comum práticas assistencialistas como o envio de carros-pipa pelo prefeito e a cobrança do “favor” nas eleições.
Num cenário de seca, a economia local também sofre. A baixa safra e a escassez de produtos influencia o aumento dos preços de alimentos e mantimentos básicos. Um exemplo é a palma (espécie de cacto que serve de alimento para o gado) que tem seu custo aumentado bem acima da inflação quando a seca se prolonga.
A previsão inicial era concluir as obras em 2010. Com quatro anos de atraso, 57,8% da obra foi concluída, e o custo pulou de R$ 5,1 bilhões para R$ 8,2 bilhões. O Governo Federal alega que as obras passaram por problemas de adequação do projeto original à realidade da execução, como a inclusão de adutoras de distribuição não previstas, e falta de planejamento e irregularidades, como túneis escavados em lugares errados e abandono de canteiros por empreiteiras. A previsão é entregar a obra no final de 2015.

Desafios socioambientais

O atual projeto de transposição foi elaborado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, no final da década de 1990. O plano saiu do papel no governo Lula, que enfrentou protestos e problemas com licitações, e ganhou impulso no governo Dilma, com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
O projeto sempre foi polêmico. Para muitos ambientalistas, além de representar um custo alto quando comparado a outras alternativas, a transposição pode trazer mais perigos ao rio São Francisco, que já sofre com problemas como a poluição das águas por esgoto e resíduos industriais e o desmatamento da vegetação ciliar, que provoca o assoreamento em seus leitos.
Entre esses impactos da obra, estaria a perda de habitats de fauna terrestre e a introdução de espécies de peixes estranhas nas bacias receptoras, o que ocasionaria a modificação das comunidades biológicas aquáticas nativas, com o risco de reduzir a biodiversidade da caatinga.
Para o governo, o alto investimento compensaria no longo prazo, já que as secas são sucessivas e, em época de crises provocadas pela estiagem, o governo gastaria de qualquer forma com ações emergenciais, com carros-pipa e cestas básicas. A situação pode piorar no futuro: com os efeitos das mudanças climáticas, o semiárido poderá se desertificar.
Outra crítica ambiental seria um possível rebaixamento do nível da água do rio. Para o Ministério da Integração Nacional, os estudos realizados demonstram que as vazões (volume de água que corre) a serem transpostas não provocam graves impactos. Isso porque a transposição representaria menos de 3% da vazão do rio, e a decisão de acionar o bombeamento poderia variar de acordo com as condições do São Francisco e do nível de chuvas.
Movimentos sociais, como a Frente contra a Transposição do São Francisco e a Comissão Pastoral da Terra, também temem que o empreendimento atenda somente a interesses empresariais do setor industrial e do agronegócio que necessita de agricultura irrigada, mas não resolva o abastecimento da população nordestina de baixa renda, especialmente das famílias que vivem da agricultura familiar ou em pequenos povoados.
Críticos apontam que diante de outras carências atuais dos ribeirinhos, como o investimento em saneamento básico, a transposição do rio não seria prioridade.  A má-distribuição da água é apontada por muitos especialistas como um dos grandes problemas atuais da região. Hoje é comum encontrar no semiárido, açudes que são de uso privado ou que não possuem adutoras que liguem o reservatório a comunidades.
Os críticos do projeto defendem que o governo pode resolver o problema dos recursos hídricos na região do semiárido com soluções mais baratas, como melhor aproveitamento da água da chuva, programas de acesso a cisternas, interligação de açudes grandes e médios, obras de saneamento, fortalecimento de programas de transferência de renda e a gestão eficiente da rede de distribuição.
A obra também gera impacto nas comunidades rurais, principalmente com o deslocamento da população para dar passagem às obras. Muitas recebem indenizações consideradas baixas e vão morar em vilas rurais construídas pelo governo. A grande estrutura física necessária para o canal também pode desmatar a caatinga nativa, diminuir áreas de plantio e confinar rotas de animais.
Para enfrentar essas questões, o empreendimento prevê recursos de quase R$ 1 bilhão para programas básicos ambientais, que buscam minimizar o impacto das obras. Existem ainda projetos que preveem investimentos na melhoria do saneamento básico.
Carolina Cunha

Bibliografia

  • Conflitos pelo uso dos recursos hídricos, de Francisca Neta A. Assunção e Maria Augusta A. Bursztyn (Editora Garamond, 2002)
  • Artigo "Afinal, o que é a transposição do Rio São Francisco?", de Elisabete Cardoso Ferreira (UFF)
  • Artigo "O Nordeste seco e a transposição do Rio São Francisco", de Luis Kosminsky (USP) e Antônio Carlos Zuffo (USP)
  • Conflitos socioambientais do Projeto de Integração do Rio São Francisco, de Cristine Ferreira Gomes Viana (dissertação apresentada na UNB/CDS; 2005)
  • Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional. Relatório de Impacto Ambiental - RIMA. Brasília, julho de 2004. Disponível em: http://www.integracao.gov.br/c/document_library/get_file?uuid=ceeff01f-6440-45da-859b-9acd1bfa87cf&groupId=66920
  • Atlas Nordeste - Abastecimento Urbano de Água - ANA - 2006. Disponível em: http://www.integracao.gov.br/c/document_library/get_file?uuid=b007b6b4-82f8-4f6a-b905-1d325cbc456c&groupId=66920

http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/transposicao-do-sao-francisco-obra-de-integracao-pretende-garantir-agua-no-sertao.htm