quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Redação do Enem com nova nota esclarece critérios de correção

O estudante Michael Cerqueira de Oliveira, de 17 anos, que teve a nota da redação no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) alterada de “anulada” para 880 conseguiu nesta semana um documento que pode ajudar milhões de candidatos a entender suas notas. Chamado de espelho da correção, ele inclui uma tabela com os itens avaliados e a pontuação máxima que se pode obter em cada um.
Os critérios são os mesmos do edital: 
- Demonstrar domínio da norma culta
- compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo
- Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista
– Demonstrar reconhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação
5 – Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, demonstrando respeito aos direitos humanos
O que não era informado e fica claro na ficha de correção é que cada um deles tem exatamente o mesmo peso, 200 para cada. Ao pé da tabela há um campo a ser preenchido sobre a “Situação do texto segundo o avaliador”. Todas as provas deveriam ser corrigidas por dois avaliadores independentes e, em caso de discordância de mais de 300 pontos, um terceiro.
No caso de Michael, o primeiro corretor escreveu “Fuga ao tema” neste espaço, o que anularia a sua redação. Todos as demais notas foram zeradas.

Foto: Reprodução
Espelho do primeiro avaliador
Um segundo avaliador deu nota máxima ao estudante nos critérios dois e cinco – exatamente os relacionados à compreensão do tema, contradizendo totalmente o primeiro. No entanto, a redação se manteve anulada até que a escola Lourenço Castanho, onde o aluno é bolsista, entrasse com pedido judicial para ver o texto. Dois dias depois, antes de atender à Justiça, o Ministério da Educação afirmou que foi encontrada a segunda correção e confirmada por um terceiro avaliador. Portanto, a nova nota era 880.

Foto: Reprodução
Espelho do segundo avaliador
É curioso que, apesar do edital afirmar que o terceiro corretor refaz a correção, neste caso, ela foi exatamente idêntica a do segundo corretor.

Foto: Reprodução
Espelho do terceiro avaliador
Michael, que quer cursar Economia, tenta uma vaga na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ou na Universidade de São Paulo (USP), onde terminou o vestibular ontem. “Mesmo que eu não precise do Enem para entrar no curso superior, é uma nota muito importante. Por exemplo, estas bolsas para o exterior que o governo anunciou são pelo desempenho no Enem, eu posso tentar”, comenta.
A voz de quem corrige
Quem está acostumado a corrigir redações tanto no Enem quanto em vestibulares e concursos públicos se diz surpreso com a falha na correção de Michael. “Fiquei muito surpresa com a falha e lamentei muito o ocorrido, porque acho o processo muito rigoroso. O treinamento é intenso e o meu supervisor, por exemplo, fica atento a tudo, o tempo todo”, contou ao iG uma corretora de São Paulo, que não pode se identificar por causa de termo de sigilo do contrato.
A corretora conta que, em casos de discrepância, o supervisor não só faz sua própria correção como discute as mudanças de nota com os corretores. “Para chegar em um afinamento. Além disso, um apanhado de redações é corrigido separadamente, mesmo que não haja divergência, para analisarmos se há uma coerência na correção”, afirma. Segundo essa professora, uma nota zero não é dada facilmente. Há muitos itens a serem considerados.
Cada um dos cinco critérios é avaliado em seis níveis (de proficiência muito baixa ou ausente a excelente), ou seja, a nota para cada item pode ser zero, 40, 80, 120, 160 ou 200. A orientação, segundo corretores, é que algo seja sempre considerado, a menos que o texto fuja do tema proposto ou não seja uma dissertação, tenha até sete linhas apenas, contenha frases dos textos motivadores transcritas ou “impropérios”, como desenhos.
A correção dos textos é feita por um programa de computador. O processo, segundo professores ouvidos pelo iG, costuma ser mais tranquilo – porque o corretor faz no seu tempo, em casa, sossegado e descansado – e bem monitorado. Mas não está livre de falhas, eles admitem. No caso da Fuvest, por exemplo, as correções são feitas no papel, em local e hora definidos pela universidade.
Sem neutralidade
Apesar dos critérios claros, corretores admitem que há subjetividade na correção. Há professores mais exigentes e outros menos. Por isso, o papel da supervisão e do treinamento é fundamental. “Por mais treinamento que haja, a visão de quem corrige não é totalmente eliminada e vai haver divergências de correção. A matriz é clara e objetiva no papel, mas são milhões de textos sendo corrigidos. É impossível garantir neutralidade absoluta”, comenta outro corretor de Brasília.
Esse corretor, que dá aulas em escolas de ensino médio, acredita que tornar o processo mais transparente – dando vistas às correções – é importante para tirar as dúvidas dos candidatos. Mas ele defende que os candidatos conheçam melhor as exigências da prova. Ele ressalta que, às vezes, o aluno faz uma boa redação, mas não segue o que é exigido na matriz e perde pontos. “E ele não compreende isso, porque não sabe, na verdade, o que se quer dele”, diz.

http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/enem/redacao-do-enem-divulgada-exibe-mecanismo-de-correcao/n1597566216080.html

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