segunda-feira, 7 de junho de 2010

Desastre Ambiental: vazamento de Petróleo no Golfo do México

RESUMÃO:
Na noite de 20 de abril de 2010, uma explosão na plataforma Deepwater Horizon, arrendada pela empresa British Petroleum (BP), matou 11 funcionários no Golfo do México. Dois dias depois, a plataforma afundou a aproximadamente 80 quilômetros da costa da Louisiana, sul dos Estados Unidos. O petróleo cru começou a vazar da tubulação rompida a 1,5 quilômetro da superfície do mar, formando uma enorme mancha negra que se aproxima do litoral americano.

Desde então, o óleo vem prejudicando a fauna marinha, o turismo e a pesca na região. Todos os esforços da empresa BP para conter o vazamento falharam e o derrame deve continuar por mais um mês. Pela sua extensão, esse foi considerado o pior vazamento de petróleo da história dos Estados Unidos.

O desastre no Golfo do México trouxe como consequências: a) ameaças ao ecossistema; b) prejuízos à indústria pesqueira e ao turismo; c) desgaste político do presidente Barack Obama; d) revisão dos incentivos à indústria petroleira; e) maior regulamentação do setor petrolífero; f) incentivo à discussão sobre energias alternativas.
Agora com mais detalhes.

A mancha negra que se estende sobre o Oceano Atlântico, numa área equivalente a onze vezes a cidade do Rio de Janeiro, é a imagem da maior catástrofe ambiental da história dos Estados Unidos. O vazamento de petróleo cru e de gás no Golfo do México causou, além de danos ao meio ambiente, perdas econômicas e políticas para o governo de Barack Obama. E como todas as tentativas de conter o vazamento falharam, a mancha deve se alastrar por mais um mês, agravando a situação.
O acidente também obrigou o governo norte-americano a revisar as políticas de energia e a regulamentação do setor petrolífero que explora o óleo mineral em águas profundas. É uma discussão que também interessa ao Brasil, que deve definir em breve as regras de exploração do petróleo na camada pré-sal.

Na noite de 20 de abril de 2010, uma explosão na plataforma Deepwater Horizon, arrendada pela empresa British Petroleum (BP), matou 11 funcionários. Dois dias depois, a plataforma afundou a aproximadamente 80 quilômetros da costa da Louisiana, sul dos Estados Unidos. O petróleo começou a vazar da tubulação rompida a 1,5 quilômetro da superfície do mar, formando uma enorme mancha que se aproxima do litoral americano. Desde então, o óleo vem prejudicando a fauna marinha, o turismo e a pesca na região.

Pela sua extensão, este foi considerado o pior vazamento de petróleo da história dos Estados Unidos. Estimativas iniciais do governo e da empresa BP apontavam o derramamento de 5 mil barris de petróleo cru por dia, o equivalente a 800 mil litros. No dia 27 de maio, porém, devido ao alerta de cientistas, foi verificado um volume muito maior: de 12 a 25 mil barris diários.

A quantidade acumulada é quase três vezes maior que o vazamento do navio petroleiro Exxon Valdez, ocorrido no Alasca em 24 de março de 1989, até então considerado o mais grave em águas norte-americanas. Na ocasião, foram espalhados 250 mil barris (40,9 milhões de litros) de petróleo cru no mar, provocando a morte de milhares de animais. Tudo indica que, desta vez, a catástrofe será maior para o ecossistema.

Pelicanos

O Departamento de Pesca dos Estados Unidos emitiu um boletim alertando para os danos causados a animais marinhos do Golfo, tanto pelo petróleo quanto por produtos tóxicos usados na limpeza. Segundo o documento, os componentes químicos causam irritações, queimaduras e infecções na pele. A ingestão pode trazer problemas ao aparelho gastrointestinal, danificar órgãos e, a longo prazo, levar à morte.

Entre os animais em risco está a ave-símbolo do Estado de Louisiana, o pelicano marrom. O santuário da espécie - a ave só recentemente saiu da lista de animais ameaçados de extinção - foi atingido pelo petróleo. Toda vez que o pelicano marrom mergulha atrás de peixes, ele fica com as penas cobertas de óleo; desse modo, não consegue regular a temperatura corporal e morre de hipotermia.

Quatro espécies de tartarugas marinhas, além de golfinhos, cachalotes, camarões e outros crustáceos e peixes (o Golfo do México é um dos únicos viveiros, no mundo, do atum rabilho) estão entre as espécies ameaçadas. O plâncton, inclusive, organismo que está na base da cadeia alimentar marinha, não sobrevive em contato com o petróleo.

A mancha de petróleo colocou em alerta toda área costeira de Louisiana e das regiões vizinhas da Flórida, do Mississipi e de Alabama. O acidente também afetou a indústria pesqueira, os serviços, o comércio e até o turismo, uma vez que as praias ficaram sujas de óleo. A pesca comercial e recreativa foi proibida. O motivo, segundo o governo, é proteger a população do consumo de moluscos contaminados com componentes cancerígenos do petróleo.

Criadores de camarão tiveram a atividade suspensa e abriram processos judiciais contra a BP. A Louisiana é o maior Estado produtor de camarões nos Estados Unidos.

Somados, os prejuízos para a economia podem chegar a mais de US$ 1,6 bilhão (R$ 2,9 bi), de acordo com especialistas. O Estado de Louisiana ainda gastou cerca de US$ 350 milhões (R$ 638,9 milhões) em barreiras de contenção.

Há 31 anos, o ecossistema do Golfo do México foi afetado por um acidente semelhante. Em 3 de junho de 1979, a plataforma Ixtoc I explodiu na baía de Campeche, a 100 quilômetros da costa mexicana. Foram derramados entre 10 e 30 mil barris de petróleo por dia, até que a tubulação foi tampada em 23 de março 1980. Traços de petróleo ainda eram visíveis três anos depois da tragédia.

Exploração

Todas as tentativas da BP para conter o vazamento falharam: a empresa tentou injetar uma mistura de lama e cimento na tubulação, colocar uma capa de proteção, sugar o petróleo com mangueiras e cavar poços ao lado da plataforma submersa. Na mais recente tentativa, iniciada no dia 1º de junho, a ideia era usar robôs submarinos para instalar um equipamento que pode redirecionar o fluxo para a superfície, onde o petróleo será recolhido em navio.

Enquanto isso, por conta do acidente, o presidente Barack Obama amarga, além da queda de popularidade, uma crise política. Ele foi acusado pela oposição republicana de demorar muito para resolver o caso e de mau gerenciamento nos esforços de contenção da mancha. A situação do presidente foi comparada à de seu antecessor, George W. Bush
, criticado pela lentidão no socorro às vítimas do furacão Katrina, que devastou New Orleans (na mesma região) em 2005.

Em maio de 2010, pressionada pelos republicanos e contrariando ativistas ambientais, a Casa Branca deu passe livre para que as multinacionais petrolíferas ampliassem a exploração em águas profundas. Agora, Obama foi obrigado a admitir o excesso de confiança na autorregulamentação das empresas e adotar medidas de cancelamento da prospecção de petróleo no Golfo do México, além de prorrogar a moratória (suspensão de verbas) para a exploração na costa do Atlântico.

Como resultado do desastre em Louisiana, os Estados Unidos devem apertar o cerco às agências reguladoras do setor e obrigar a indústria a investir em mais segurança. Assim, o custo de extração e produção de petróleo deverá sofrer aumentos, podendo afetar também os investimentos na camada pré-sal, no Brasil, e reorientar as metas de segurança da Petrobras.

Por fim, o acidente na costa dos Estados Unidos dá novo fôlego ao debate sobre energias alternativas. O petróleo, que hoje é a principal fonte de energia do mundo, é escasso, cada vez mais caro, cria políticas de guerra (como no Oriente Médio
) e danos ao meio ambiente. Os Estados Unidos respondem por apenas 2% das reservas do planeta e a produção interna atende a um quinto do consumo doméstico. Para o gigante econômico, a solução se delineia, cada vez mais, num futuro em que o desenvolvimento do país seja menos movido pelo "ouro negro".

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